terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Desígnios

Estou me virando do avesso
Para tentar compor meu verso.
Choro, grito, rezo...
Muito dou,
Mas muito peço.
Peço a Deus que me ilumine,
Faça claras minhas ideias.
Que Ele oriente meus passos,
Guie minhas mãos
E desanuvie meus pensamentos.
Que ele me presenteie com coerência,
Humildade,
Paciência
E resignação, na dose acertada,
Para me rebelar contra as injustiças
Mas compreender os seus desígnios.
Vanda Felix

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Talvezes

Quis voar no vento,
De braços abertos,
Em queda vertiginosa
E livre,
Feito ave de rapina.
Descer as corredeiras
Em braçadas vigorosas
(De cabeça).
Mas os ventos foram fortes demais
E as corredeiras, violentas.
Formou-se vendaval
Que me atirou contra rochedos
(Implacável muralha nativa)...

 Ah, se Deus me permitisse tornar ao voo!
Talvez, não arriscasse tantas rasantes,
Talvez, as tentasse todas de novo...
Talvez.
Talvez testasse, de novo, minha resistência
Contra a rebentação.
Talvez quisesse, de novo,
Sentir o vento na face.
Talvez saltasse do precipício
Sem paraquedas.
Talvez...
Em queda livre,
E eu, livre e liberta,
Despida de meus medos,
De meus preconceitos...
Talvezes...
Tantas fossem as vezes
Em que tivesse oportunidade.
Vanda Felix

Crédito da imagem: https://pt.slideshare.net/mobile/vilpires/talvez-4834595

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Onde nascem as palavras?

Onde nascem as palavras?
"Resposta óbvia", dirão!
"Na boca!"
Contesto!
Muitas nascem no estômago
E são vomitadas na cara
Daqueles que nos nauseiam...
Outras, no útero.
Essas, vêm envoltas em cuidados
De proteção e carinho.
São mansas, doces
E zelosas.
Há também as que advêm do fígado.
Amargas, como fel.
As que nascem no coração
São imprudentes.
Saem instintivamente,
Sem pesar as consequências.
São infantis e temperamentais,
Desconhecem protocolos e rituais,
Talvez por isso
Nos façam sofrer mais...
Vanda Felix

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Em qualquer tempo

Em qualquer tempo,
Se a dor que te corrói
É por demais
Intensa,
Não pensa!
Centra-te no que te vale a pena,
Centra-te no que te recompensa...

Vence
A dor,
A tristeza,
O desamor,
Buscando aquilo
Que compensa.

Cresce!
E faze crescer em ti
Somente nobres sentimentos.
Cultiva sorrisos,
Alimenta ações gentis,
Ignora a ignorância,
O escárnio,
As atitudes hostis.

Em qualquer tempo,
Peneira seus sentimentos,
Aduba a positividade,
Pois tudo que vive requer alimento.
Então, vive
E alimenta-te de felicidade!
Vanda Felix


terça-feira, 12 de novembro de 2019

Agora

E, agora,
O que a gente faz?
Comemora
A desgraça que nos devora?
Ou senta e chora?
Resignados,
Conformados e passivos,
Impassíveis
Diante dos fatos impossíveis
De serem acreditados...
Arregaça as mangas
E põe o pé na estrada,
São muitos os caminhos
Que se apresentam mundo a fora.
Afora isso,
Não há mais nada.
E gora?
Ficar ou ir embora?
Anda,
Que a vida passa
E tudo o que temos
É o instante, o agora.
O passado já passou,
Virou lembrança,
Saudade.
O futuro... Quem o sabe?
É apenas uma possibilidade.
Apenas o presente
Se constitui realidade.
Vanda Felix

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Desfalque

E nós, que temos por hábito
Colecionar pessoas,
Não sabemos lidar
Com o desfalque...
Dói no fundo da alma,
Cada perda,
Cada descarte.
São peças sem reposição,
Únicas e raras
A comporem o mosaico
Dos nossos corações...
Vanda Felix

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Velhas novidades

Os ares não são os mesmos.
Também não são as mesmas as caras,
As cores,
Antes vivas,
Agora desbotadas.
Não são os mesmos lugares,
Tudo novo,
Tudo mudado.
O mundo gira
E ninguém fica parado.
Mas, apesar das caras novas,
Velhos são os hábitos,
Velhas concepções,
Velhos vícios reafirmados.
Cérebros inativos,
Embotados,
Consumindo "enlatados"
Que nos entalam,
Sufocam,
Calam-nos a voz,
Tiram-nos a vez
De uma só vez,
Num susto só.
Novos tempos,
Velhos perigos.
Armadilhas escondidas
Em cada palmo dessa estrada
Sem retorno,
A qual chamamos vida...
Vanda Felix

(Sobre o hoje...)


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Escoar

Somos um compêndio de histórias várias
Que vivemos,
Vivenciamos
Ou nos contaram.
Antologia ambulante
De narrativas,
Discursos,
Teses acusativas
E arguições defensivas
Que nos constituem em páginas rascunhadas,
Rabiscadas,
Arrancadas,
Revisadas,
Reescritas,
Relembradas.

Somos o que herdamos...
Somos o que vivemos...
Somos o que sentimos.
Quebra-cabeças confuso,
Desafio insolucionável,
Teorema improvável.

Na somatória dos dias,
Que nos constitui e nos desfaz,
Caminho sem volta.
O tempo que segue,
Consigo nos leva,
Mas não nos devolve,
Sequer regurgita:
Mastiga e engole.

Seguimos...
Ora vendados,
Ora atentos,
Seguimos em frente,
Olhar adiante,
Sempre avantes,
Seguimos.

Sem volta,
Sem a menor segunda chance.
Escoamos
Feito as areias do tempo,
Por entre os dedos da vida.
Feito água, escoamos.

Compondo histórias,
Buscando memórias,
Remotas lembranças,
Que não tornam mais.

Viver e escoar,
Esvair-se,
Acabar-se.

Finda o tempo
Ao fim do tempo
Que foi-se
E junto do qual
Fomos...
Vanda Felix


terça-feira, 5 de novembro de 2019

Responsa

Às vezes, bate o desejo de me ausentar de tudo,
Buscar um outro mundo,
E começar de novo.
Jogar fora meus rascunhos,
Passar a borracha nos erros,
Tentar novos acertos.

Mas, e o tempo que me resta?
Será ele suficiente?
O mundo todo está doente
E não há fórmula que o cure.

Não se fecham as feridas,
Latentes, tão doloridas,
Fendas fundas
Tão sangrentas.

Desejo fechar meus olhos
E "desver" tudo o que vi,
"Desviver" o que vivi,
""Des-sentir" o que senti.

Talvez, me ausentar de tudo,
Seja uma grande cilada,
Não traga resposta pra nada,
Nem me livre dos problemas.

Talvez, o melhor seja ficar,
Arregaçar as mangas e tentar
Tornar o mundo melhor.

Às vezes, dá medo, fadiga,
Mas, estou pronta pra briga,
Se preciso for brigar...
Não posso, não quero,não devo
Fugir, nem me acovardar...
Vanda Felix


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Anestesia

Quero antecipar o anoitecer,
Antecipar meu sono,
Para não ver,
Não sentir,
Não saber...

Quero cair nos braços de Morpheu,
Entorpecer-me com morfina,
Para não lembrar o que me faz doer,
Para, simplesmente esquecer
Que deixei de ser menina...

Não quero ver,
Não quero sentir,
Não quero lembrar.

Acorde-me ao amanhecer,
Quando o pesadelo acabar.

Preciso de novos ares,
Que me tragam os velhos sorrisos,
Preciso da sinceridade da infância
Iluminando o Paraíso.

Quero apagar,
Anestesiada,
Inebriada
Pela névoa do esquecimento.

Preciso regulamentar meu tempo,
Tirando um tempo para me amar
(Já que tu não mais me amas,
Ou não me amas como me amavas)...

Vou me entregar ao sono profundo
(Ao mais profundo dos sonhos)
Que me leve,
Quanto mais longe
Deste perverso mundo.
Vanda Felix






segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Tempos novos

Vou fazer aquele cafezinho esperto,
Com os bolinhos que me ensinaste...
Talvez aquele bolo de fubá
Com sementes de erva-doce
E chazinho de hortelã.
Cheirinho bom, pela manhã,
Em que o despertar era preguiçoso.
Separei aquela manta quentinha
Para cobrir tuas pernas inquietas.
Está cheirosinha,
Do jeitinho que tu aprecias.
Programei a TV no teu canal favorito, 📺
E preparei teu vestido mais bonito,
Aquele que te deixa
Com ares de menina sapeca. 👧
Anda, anima-te
E vem rir comigo
Das lembranças doces que vivemos.
Deixa-me cuidar de ti
Como de mim sempre cuidaste,
Faz-me companhia,
Dá-me teu colo,
Lugar de aconchego e segurança,
Onde, em qualquer fase da vida,
Faz-me ser tua criança.
Não desista de ser minha mãe,
Mesmo sendo minha criança.
Você, minha força motriz,
Minha fonte de esperança.
Guarda tua energia
Para rirmos das boas lembranças.
Vamos superar essa fase de dor,
Arrumar toda a bagunça,
Desfazer a confusão
E refazer nossos caminhos,
Passo a passo,
De mãos dadas,
Como sempre foi
E sempre deverá ser.
Não desistimos de você
E pedimos que,
De nós não desista.
Aprendemos, de ti, o amor mais puro,
Desinteressado e seguro.
Volta! Fica!
Ilumina o que está no escuro.
Vamos regar as plantinhas?
Estão secas, murchas,
Sem vida....
E assim estamos nós,
Ausentes de seus carinhos.
Vivamos os tempos novos
Como novos tempos de vida,
Há um longo caminho à frente,
Longa estrada a ser percorrida.
Segura minha mão,
Vou contigo,
És a razão da minha vida.
Vanda Felix



quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Árvores


Sou fruto de árvore fértil,
Frondosa,
Que a mim gerou,
Além de outros belos frutos,
Outras sementes
Que também se formaram árvores
Frutíferas
E frondosas.

Tornei-me, eu, árvore seca,
Que fruto não gera,
Que flores não desabrocham
E se desfolha
À primeira brisa
Da Primavera
(Mas, tenho raízes,
Que aqui me prendem)...

Árvore fértil,
De generosa sombra,
Que, outrora, abrigara ninhos,
Dera morada
A passarinhos,
Hoje, enverga seus galhos,
Que, um dia, tocaram o céu.
Já não mais frutifica,
Nem floresce.
Seu caule, já frágil,
Carcomido pelas pragas,
Já não tem forças
Para sustentá-la...

Mesmo eu, já me envergo,
Enfraquecida pela ação do tempo.
E, tristemente, dou-me conta
Dos frutos que não gerei,
Das sementes que não espalhei
Ao vento,
Pelos ares,
Pelos vales,
Pelos mares...
Findo o tempo
Da florada,
Que me resta?
Quase nada...
Vanda Felix


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Olhos e olhares

Olhos que  vigiam
Ouvidos que  auscutam
E na rede de vigilância
Que não me guarda
Nem me protege
Ouço passos cautelosos
Que perseguem
Os passos meus.
Cada suspiro,
Cada sopro,
Cada palavra...
Nada passa sem ser notado
(Mesmo sem ser notório...).
O cuidado que não cuida.
A sede do saber tudo
Sobre tudo o que não se sabe,
Sobre tudo o que não lhe cabe.
O olhar inquisidor,
Uma feição que desaprova.
A pressa em ser o primeiro,
Mesmo que a chegar a lugar algum!
O autor do "furo" noticiado.
O caçador que sai à caça.
A caça,
A perseguição.
Gente sem noção!
Nada tanto lhe apraz
Que a desgraça e a dor do próximo.
O que lhe dá satisfação
E o faz se sentir o máximo.
Gente que olha,
Gente que espreita,
Que ao outro não respeita.
Tenho nojo e tenho pena
Dessas almas tão pequenas.
Que Deus olhe por vocês...
Vanda Felix


sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Falar, falar, falar...

Dizem que em boca fechada
Não entra mosca,
Mas também não saem ideias.
Essas, ficam sufocadas,
Aprisionadas na garganta
Ou fervilhando na cabeça.
Causam ansiedade,
Sufocamento,
Tristeza,
Insanidade...
Melhor engolir umas mosquinhas,
Desde que pequenininhas,
Do que sapos inteiros.
Melhor extravazar
Do que se asfixiar
Com o não dito,
O não exposto,
O não gritado...
A boca é nossa válvula de escape.
Nos permite mostrar ao mundo
O que nos corrói por dentro,
O que nos consome as entranhas.
Nos permite pedir socorro,
Sinalizar perigos
Que nos rondam
Ou a outrém.
Guardamos o que convém,
Não o que nos imputam.
A alma fala
Através da boca,
O coração se aquece
Com palavras advindas de outras bocas,
Que nos adentram os ouvidos.
Falar, falar, falar...
Alívio para alma, mente e coração.
Falar, falar, falar
Desopila o fígado,
Alivia a tensão.
Fale pela boca 👄,
Mas não pelos cotovelos.
Não fale tudo o que pensa,
Nem fale sem pensar.
A palavra é uma arma
Que pode ferir de morte
Almas frágeis,
Espíritos sensiveis.
Falar, falar, falar...
Pode ser experiência boa,
Se primar pela educação.
Pode ser ato de comunhão,
Troca,
Partilha de emoção.
Vanda Felix


terça-feira, 13 de agosto de 2019

Vai, idade...



Vai, idade...
Leva consigo meu frescor,
Minha sagacidade.
Da minha visão apurada,
Leva toda a acuidade.
Vai, idade,
Avança, feito trator
Sobre minha mocidade.
Mas deixa-me doces lembranças,
Muito aprendizado
E boa experiência.
Vai, idade.
Traz, como consolo,
A maturidade.
Leva a vaidade fútil
E faz de mim
Um ser humano mais útil.
Traz-me a nostalgia
Dos dias frios
Do inverno
Sob um teto aquecido.
Traz a recordação
Dos verões escaldantes
À beira do mar arredio.
Memórias
Que vão e vêm...
Histórias
Que a mim pertencem
E a mais ninguém.
Sou um compilado de páginas
Rascunhadas,
Manuscritas,
Que nunca foram passadas a limpo.
Mas ainda com páginas em branco,
A serem escritas com menos rasuras,
Pois os erros vão se tornando escassos
À medida em que vai a idade
E se achega a maturidade.
Fruta madura é mais doce,
Tem textura mais suave.
A gente aprende a valorizar o pouco
E a ser mais feliz na simplicidade.
Vanda Felix

https://www.revistabula.com/9924-maturidade-e-parar-de-buscar-a-aprovacao-das-pessoas-para-ser-feliz/

sábado, 27 de julho de 2019

Eu te tenho um amor tão grande... ❤

Eu te tenho um amor tão grande,
Que me transborda pelos olhos.
Cai, feito cachoeira,
Escorrendo, face abaixo,
Só de falar seu nome.
Eu te tenho um amor tão grande,
Que me aperta o peito,
Fazendo quase explodir,
Ou quase expelir
Pela boca, o coração.
Eu te tenho um amor tão grande,
Que perturba meu sono,
Invade meus sonhos
Ao mesmo tempo em que me faz cantar.
Eu te tenho um amor tão grande,
Que, no mesmo compasso das lágrimas,
Faz brotar um sorriso bobo
Só por ouvir tua voz doce.
Eu te tenho um amor tão grande,
Que me faz pequena
Dentro do teu abraço breve.
É tão grande o amor que te tenho,
Que me faço criança de novo,
Só pra roubar tua atenção...
É tão grande o amor que te tenho,
Que, se me chamas, eu venho,
Esteja, onde estiver... 
Vanda Felix




segunda-feira, 22 de julho de 2019

Verdades

Quando a verdade se torna triste
E te torna triste, 
Ela não deixa de ser verdade,
Embora não me baste
Para justificar a realidade.
Verdade triste,
Verdade fria,
Nua e crua...
Nenhuma verdade é absoluta,
Não desanime,
Siga sua luta.
Há verdades
Que não me convencem.
Então, recrio-as, nos meus moldes,
Não as escondo,
Não as mascaro,
Mas dou meus toques,
Remodelo.
E faço a minha verdade
Sorridente,
Ambígua,
Irônica
E intrigante.
Capta, quem é pensante.
Verdades tristes
Emudecem as almas.
A minha grita!
Se eufórica
Ou aflita...
Não se cala,
Reverbera,
Denuncia.
Mas também ouve,
Analisa,
Compartilha.
Muda, mas não emudece.
Aprende, 
Evolui
E cresce!
Sem meias-verdades,
Sem fantasias.
"Em verdade, lhes digo":
Verdades tristes
Podem ser mudadas,
Melhoradas
E aplicadas
No dia-a-dia...
Vanda Felix

terça-feira, 16 de julho de 2019

Frieza



Frio, que corta a carne,
Frieza, que mata a alma.
Dor, que dói na gente,
Dor, que o outro não sente.
Falta de um beijo quente
Ou de um abraço acolhedor.
Vejo em mim
Que não me vejo.
Vejo, no outro,
Meu desejo.
Procuro, ali, o que aqui tenho
Guardado no meu peito.
Não tem jeito,
Não me enxergo,
Se enxergo,
Não me mexo.
Frio, na pele,
Frieza, na alma.
Me agito,
Perco a calma.
Se me queixo,
Não me ouvem,
Se me calo,
Me ignoram.
Vida passa
Sem que eu viva,
Sem que eu cresça...
Passa, passa,
Passa o tempo,
Muda o clima
E a estação.
O frio se vai,
Vem verão,
Frieza fica.
Frieza, que aniquila,
Que mata, aos poucos,
Em silêncio...
Silencio
Minha fala,
Calo o grito
Que me sufoca.
Não importa,
Não mais vivo.
Sobrevivo
Em minha toca,
Isolada,
Solitária.
Faço-me fria,
Como fui ensinada...
Lição aprendida
A duras penas
Nesta triste
Caminhada.
Frio,
Frieza,
Dureza...
Pedra posta
Sobre todo e qualquer
Sentimento.
Sou pedra.
Sou gelo.
Sem alma,
Sem desejo...
Vanda Felix




quinta-feira, 11 de julho de 2019

Finitude

Trago, registrada na face,
Minha história de vida.
Minha história vivida.
Trago, tatuada na alma,
Lembranças de tempos remotos.
São o que me fazem o que sou,
Tudo o que recebo
E o que dou
Me marcam,
Escavam, fundo na pele,
Nas profundezas da alma.
Me esculpem,
Lapidam.
Constituem meu ego,
Meu eu,
De carne e espírito.
Fazem de mim o que sou:
História mal-escrita,
Rabiscada,
Pouco lida,
Ignorada pela grande massa,
Porque comum,
Mera história de qualquer um.
Não me fazem mais
Nem menos que ninguém.
Mas fazem de mim quem sou,
Ser único,
Uno em carne e espírito,
Carne a ser consumida pelos vermes,
Espírito a se perpetuar no além...
Vanda Felix


sábado, 6 de julho de 2019

Agridoce

Deixo de lado
Tudo aquilo
Que não me seja do agrado.
Rotaciono
Meu corpo
Em torno de mim mesma.
Translaciono
Meu corpo
Em torno do seu.
Subo seus montes,
Desço em seus vales.
Escalo,
Mergulho,
Me afogo.
Me agrado...
Preservo
Para meu uso e gozo.
Cuido,
Exploro,
Invado.
Por fim, me entrego.
Lânguida,
Absorta,
Absorvida,
Sorvida,
Extasiada,
Consumida.
És meu pão,
Sou tua comida.
Que alimenta
E saceia
Pra toda vida.
Plena de amores,
Ardores
E cheiros.
Planta carnívora,
Voraz devoradora de tua carne
Curtida,
Agridoce,
Ardida.
Vanda Felix


terça-feira, 2 de julho de 2019

Queria-te




Está na minha mente,
E no meu coração,
Faz parte de mim,
Mas a mim não pertence.
Constitui minha história
Mas, hoje,
Somente te tenho
Em minha memória.
Tão longe, no tempo,
Tão longe, no espaço
E tão dentro de mim!
Pedaço que falta
E faz tanta falta...
E ouço teu riso,
Tão doce, teu canto.
Por ti, me encanto,
Me rendo,
Me arrasto...
Queria-te perto,
Tão vívido e esperto,
Queria-te, agora,
Dentro de um abraço
Longo, apertado.
Vanda Felix

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Hibisco no cabelo

Cruzo a rua,
Corpo leve,
Alma livre...
Vento fresco,
Hibisco no cabelo...
Rubra face,
Rubra flor
(Desta, empresto a cor...).
Cruzo a rua,
Soltos braços
Com os quais te abraço.
Fita,
Laço,
Flor...
No ar,
Cheiro de amor
Banhado em alfazema.
Cruzo a rua,
De alma nua,
Desnudada,
Transparente.
Vou contente,
Vou de boa,
Vou na "vibe",
Pego a onda,
De alma leve,
Livre,
Solta.
Cruzo a perna,
Solto a fera,
Que te espera,
Já faminta.
É tormenta
Essa espera.
Na janela
Há um vaso
De onde colho
Meu hibisco,
Do qual empresto a cor
Que me tinge a face.
Meu disfarce
Pra essa dor...
Vanda Felix


quinta-feira, 27 de junho de 2019

Vazio profundo

Mesmo que habitemos o mesmo mundo,
Aos poucos, vamos deixando de fazer parte
Do mundo de algumas pessoas.
Nem lembranças,
Nem saudades,
Nem vontade de estar junto...
Basta uma palavra errada
E, no lapso de um segundo,
Tudo desmorona,
Tudo cai num vazio profundo.
Mas a verdade sobressai, sempre.
A tempo e a hora certos ela dá sua cara.
A tempo e a hora certos...
No seu tempo
E à sua hora.
Às vezes, demora,
Mas dá sua cara
E tudo se ajeita
Ou não...
Às vezes se rejeita
A que não seja sua visão.
Vai de cada um,
Vai de seu momento...
Um simples perdão
Anula um sofrimento.
Cura a ferida profunda,
Imunda a vida de razões
De viver...
Tudo no seu tempo...
Tempo, senhor de tudo,
Tempo, remédio dos males sem remédio...
A ti, confio meus dias,
A ti, entrego minhas dores
E minhas maiores alegrias.
E, que palavras erradas,
Ditas de forma impensada,
Sejam de pronto corrigidas,
Reinterpretadas
E que as fallhas sejam perdoadas,
Pois dói viver no mesmo mundo
De quem não nos queira por parte.
Pois que,  habitando o mesmo mundo,
Não quero
Aos poucos, ou de repente,
Deixar de fazer parte
Do mundo de algumas pessoas
A quem amo, de verdade. ❤
Vanda Felix

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Tô de boa...



Hoje eu dormi até acordar...
Entreguei-me ao ócio,
Delicioso ócio sem culpa.
Preguiça pura e simples.
Dia sem stress,
Sem pressa...
Ficar à espera do lento passar das horas.
Horas,
Minutos,
Segundos...
Tempo no conta-gotas,
Contando as gotas do tempo.
Passatempo,
Tic-tac,
Tac-tic...
Despertador silenciado.
Despertar inacabado...
Pouco a pouco me dou conta
Do dia que se anuncia.
Já vai alto o sol,
Mas não me afeto.
Hoje meu tempo é meu
E me apraz o não fazer nada.
Pausa.
Só por hoje...
Hoje, só.
Vanda Felix

sábado, 8 de junho de 2019

Passatempo

Fiquei parada no tempo
Esperando o tempo passar.
Por que parei tanto tempo?
Não sei... Não quero pensar.
Penso que o tempo não passa,
Nós é que passamos por ele.
Ele nos marca a face
E nós o levamos na pele.
Na alma, ele não toca,
Pois essa nunca envelhece.
Penso em não perder mais meu tempo
Com coisas que me entristecem.
Hoje, meu passatempo
É curtir o tempo que tenho
Pois já perdi muito tempo
Com coisas que não eram minhas.
Vanda Felix

domingo, 5 de maio de 2019

Francisco



UM DIA, NASCEU FRANCISCO,
UM TAL MENINO CORISCO
(QUE, DO SANTO, SÓ TEM O NOME!)...

E ESSE MENINO CORISCO,
A QUEM CHAMAMOS FRANCISCO,
NÃO PARA, NUNCA!
(É MUITO RÁPIDO E PRECISO.)

COMO UM RAIO, QUE ILUNINA,
CRIA A LUZ,
CRUZA A RUA,
DOBRA A ESQUINA,
ROMPE O RISO.

INQUIETO, FOGUETEIRO,
NÃO SE ATÉM A NENHUM RISCO,
NÃO TEM MEDO DE NADA,
NEM DESTE, NEM DO OUTRO MUNDO. 💀👽
(NEM MESMO DE ALMA PENADA!)...
NEM NA CASA DA VOVÓ 👵,
SE AQUIETA UM SÓ SEGUNDO!
(LÁ, MESMO, É QUE ELE REINA).

ESSE MENINO DANADO,
CUJO NOME FORA DADO
NA PIA DO BATIZADO,
E QUE É NOME DE UM SANTO,
O TAL DO SANTO FRANCISCO,


É UM MENINO AGITADO,
TÃO ÁGIL QUANTO UM CORISCO,
MAS, APESAR DESSE FATO,
É UM MENINO MUITO AMADO,
POIS SABE SER DELICADO
E TEM UM DOCE SORRISO.

CRUZA A RUA, 
ARRANCA A ROSA 🌹,
RI DO RAIO, QUE ME ARRASA,

SEGUE O CARRO 🚗,
GIRA A RODA,
RODA O EIXO,

MEXE NA CAIXA,
ENCHARCA A ECHARPE,
COCHICHA NO MEU OUVIDO

SEUS DOCES SEGREDOS DE INFÂNCIA
(DESEJOS DOCES DESSA CRIANÇA
A QUEM CHAMAMOS FRANCISCO)...


FRANCISCO, MENINO CORISCO!
ME CARREGA EM SEU LARGO RISO,
ARRANCA A DOR DO MEU PEITO,
CORRE SOLTO, PELO LEITO
DESTE RIO, QUE ESTAVA SECO
ANTES DA SUA CHEGADA.
Vanda Felix

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Caos da mudança



Ares de discórdia
Em tempos serenos de outono:
Brisa suave,
Clima pesado,
A incerteza do futuro
E os fantasmas 👻 do passado
Sufocando o presente
Que Deus nos deu de presente.
Saudosistas do ontem,
Já morto e enterrado,
Abstemo-nos de viver o hoje,
E sofremos pelo amanhã,
Que não se sabe se chega...
Unhas que se quebram,
Cabelos, que caem aos montes.
Folhas secas,
Folhas soltas,
Com os ventos se vão,
Dançando no ar,
Feito loucas,
Fugídias de alguma prisão.
Outono, o caos da mudança
Das cores, das formas, dos cheiros.
Outono, o ar rarefeito
Exerce, sobre a vida, o efeito
Do caos, da desordem,
Ou da transformação.
(Depende do que guardo no peito,
No fundo do coraçao.)
Folhas soltas,
Folhas livres,
Folhas leves,
Vida breve...
Às vezes,
Se é necessário morrer
Tal qual a folha rebelde,
Que o vento carrega longe,
Para poder rensascer,
Talvez, bem além do horizonte.
Caos da vida,
Caos do mundo...
Do caos, renasce a esperança
De que não me seja breve,
Mas que seja leve,
Que, consigo me leve
Para bem longe daqui.
Vanda Felix

(Para meu doce amigo Vinícius , alma doce de criança... )




domingo, 7 de abril de 2019

Minhas idades



Tristezas e alegrias
Triviais,
Do dia a dia,
Transformo em poesia.
Busco palavras,
Escolho rimas,
Das minhas lembranças de menina
Faço lições da maturidade.
Relevo a idade do corpo,
Que caminha para o fim,
Vivo a idade da alma,
Que vive dentro de mim
E que não envelhece,
Mas que amadurece
E fica mais bonita e jovem
Com o passar do tempo.
Saudades sinto da infância,
Mas não quero voltar para lá,
Pois, a cada fase da vida,
Intensamente vivida,
Dou a devida importância.
Vivo o agora,
Plenamente.
Exercito minha mente
Enquanto não chega o momento
De ir embora deste mundo.
Vanda Felix

quinta-feira, 21 de março de 2019

A Poesia e o Sol


A

Minha poesia
Desperta com o Sol.
Aos primeiros raios deste
Abre suas asas para o Universo,
Gritando seus versos e reversos
A quem os queira escutar.
Mas, com este não se põe,
Recusa-se a descansar,
Agita o cochilo
E o sono profundo, traz, em sonhos,
Para o mundo,
Ritmos, cadências e acalantos.

Se o Sol, o corpo aquece,
A poesia,
Que, ora alegra,
Ora entristece,
Afaga a alma,
Aquieta o coração.
Envolve o mundo
Numa aura de encantos,
Que,
Sem quê,
Nem porquê
Esquece-se de defender sua razão.
Vanda Felix

21 de Março
Dia da Poesia.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Sobre corpo e alma



   Engraçado, como o preconceito nasce, se cria e assume dimensões, por vezes, titânicas, dentro de uma realidade ilusória, numa visão equivocada e focada em escárnio e maledicências... Engraçado, não! Triste e desolador...
   Por vezes, mero fruto de ignorância, de desconhecimento. Em outras, exercício tirânico e aprimoramento da maldade, que, deliberadamente, fere, corta a carne a sangue frio, fazendo sangrar, não o corpo, mas a alma. Às vezes, o sangramento da alma é mais doído...
   No primeiro pressuposto, cabe a informação correta, o diálogo aberto e paciente, cabe a Educação. No segundo, a depender de sua crença, preces pela redenção dessa alma, que, decerto, desconhece a luz, a beleza e o perfume da empatia, da compaixão e do amor ao próximo. Essas almas são, de fato, as mais miseráveis... Rogo por elas! Rogo, não a desejar o sofrimento, na própria carne do mal que disseminam, sentindo na pele a dor que, em outrem, provocam, mas o clareamento de seu olhar, sob a luz dos bons sentimentos, que, certamente, em si existem, mas que, muitas vezes, são abafados pela mágoa, o rancor e a inveja, ou, simplesmente, pela ausência de bom senso e empatia.
   Bons sentimentos nascem em todos nós, mas, somente se desenvolvem e florescem se forem cuidados, adubados desde cedo.
   Não posso sentir na pele a dor do outro, mas posso lhe ser solidária e empática, estabelecendo afinidade e buscando o exercício da compreensão, do amor e do respeito, a despeito das convenções de cunho social, modal, religioso, alinhando minhas energias e expectativas com as do meu próximo que, apesar das diferenças, ou melhor, das particularidades físicas, divergências ideológicas, diversidade cultural, sexual ou religiosa, me é, a revelia de meu agrado, semelhante quanto à condição humana!
   Humanos nascemos, humanos sejamos até a morte! ( E que essa morte nos venha de forma natural, como o fechamento do ciclo vital)
   Que nossos corpos e mentes sejam humanos, conquanto que nossas almas sejam etéreas!!!
   Mesmo que não creia no Paraíso, que eu viva minha breve existência a fazer por merecê-lo!!!
Vanda Felix

quarta-feira, 13 de março de 2019

Do nada ao nada...



O grito silencioso
Da minha alma
Sangrenta
É apenas audível
Aos corações sensíveis.

Na cadência
Das lágrimas
(Mudas)
Meus olhos
Marejados
Falam ao mundo.

O corpo imóvel
Se agita
E grita
De dor e de frio.
Está oco, vazio...

Preciso de alento,
Apoio,
Consolo.
Nem sei se estou viva,
Ou parti deste mundo...
O corpo cá está,
Mas a alma
(Esta, perdida)
A vagar pela vida
Sem eira, nem rumo.

E o coração que fala,
Se humilha 
E implora
Migalhas de afeto,
Carinho e atenção
Que não me alimentam.

Não sei mais quem sou,
Não sei quem eu fui.
Sem força ou coragem
Não quero ser nada.
Encerrei a hornada
Que a vida me impôs.

Do nada, ao nada,
Regresso, sem medo.
Não tenho segredos
Nem ambições.
Passei pela vida,
Mas não
Sem tê-la vivido.
Servi para nada?
Não quero crer nisso...
Cumpri minha jornada,
Honrei meu compromisso.
Ninguém passa incólume
(Por menos que faça)
Sem ter contribuído.
Vanda Felix

terça-feira, 12 de março de 2019

Marcas & Marcos



O anúncio da vida,
O prenúncio da morte
São marcos,
São marcas
De nosso breve existir.
Um, alegria infinita,
Outro, dor desmedida.
Começo e fim
De nós, que somos finitos.
E no meio, o que fazemos?
Realmente vivemos
Ou passamos pela vida?
Quais marcas deixamos?
Mais risos ou lágrimas?
As rugas na testa,
Os calos, nas mãos,
O olhar, no horizonte perdido,
Um beijo roubado,
O abraço apertado,
A saudade, que dói...
São marcas e marcos,
Divisores de águas
Entre o presente e o passado.
Virtude ou pecado?
É a vida que segue,
Até onde se encerra,
Na paz ou na guerra.
Futuro? Não há!
Não, nessa Terra...
Vanda Felix

segunda-feira, 4 de março de 2019

Sonhos felinos

   Cansaço físico e mental... Inquieta mente, que não favorece ao repouso, mas, enfim, por fim, cumpre-me sucumbir (sob protestos desta mesma mente, já doente e desgastada) à malemolência do corpo e entregar-me ao aconchego dos braços amorosos de um Morpheu, também adormecido, talvez inebriado de seus próprios encantos...
   De súbito, um despertar alucinado, paranóico, sem sentido ou razão de sê-lo: sobre o mesmo leito em que jaz meu corpo cansado, uma CPU antiga, horizontalmente disposta ao lado de um monitor (que, creio, me monitore), em cuja tela luzia uma frequência cardíaca baixíssima, quase que linha reta. Por sobre a negritude da CPU combalida, um gato, também negro, ressonava o sono dos inocentes... Ruídos, arranhões e chiados: as "vozes" alteradas dos ratos, em assembleia, a decidir democraticamente o momento oportuno e exato a deixar o auto-imposto cárcere. Um a um, camundongos mínimos, luzídios e azeviches deixam o interior da máquina que os abriga, perfilando-se sobre a mesma, ao lado do felino ressonante. Na sequência, um séquito de formigas, também negras, deixa o mesmo abrigo, até então partilhado e soma-se ao exército de roedores, encarando-me, desafiadoramente...
   A frequência dos batimentos, que o velho monitor registra, cai a zero e a linha reta, exibida na tela, denota minha passagem a outra esfera.
   Enquanto isso, meu gato guardião segue ressonando o sono dos justos, o sono dos puros, talvez absorto em seus próprios sonhos felinos.
Vanda Felix

sexta-feira, 1 de março de 2019

Enchente



Muita água,
Pela frente,
Transbordando,
Entornando,
Sem vazão,
( Não sem razão)
O rio enche,
O lago alaga,
O córrego,
Plácido e inocente,
Tomado de fúria,
Transborda e mata.

Mar de lama,
Mar de gente,
Invadindo o continente.

A água que vem do céu,
Necessária e esperada,
Vem com fúria,
Vem magoada,
Destruindo o que encontra:
Seu carrinho, 🚗
A custo, financiado;
A loja, em que trabalhas;
A rua, por onde passas
E até mesmo, quem diria?
Tua casa, tua morada...
A água, que mata a sede
É a mesma, que te mata...

Então, cuida-te
E dela cuide!
Ela devolve o que tu dás!
O lixo, que descartas,
Teu esgoto,
Tuas descargas.
(Ela não fica com nada,
Do qual não se sinta dona...).
Enxurrada,
Enchente,
Alagamento,
Nada mais é, que lei do retorno.
É a Natureza devolvendo,
Tudo o que não lhe pertence
A quem esteja no entorno.
Vanda Felix


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Ânsia e idade: ansiedade




A incômoda ansiedade
(Ou ânsia, que vem com a idade)
Me cozinhava os miolos,
(Sem sal,
Sem tempero algum).
Fazia (de meus dias)
Um inferno,👿
Revirava meu estômago,
Dava-me náuseas e insônia,
Dores imaginárias
Sentidas por todo o corpo,
Faziam de meus verões🌞
(E das primaveras, também)💐
Os mais rigorosos invernos. ❄

Tentei guardá-la no bolso
(Ela, a ansiosa ansiedade)
Mas, este, estava furado
E ela escorregou, sorrateira,
Para dentro do meu sapato.👠
Pôs-se, sem cerimônia ou rodeios
A fazer cócegas, em meus pés,
(Já inchados),
Cansados das caminhadas🚶
A esmo, sem destino determinado,
Por ruas, ruelas ou becos
E todas as vias incertas.

Ardiam-me os pés,
Doía-me a cabeça,😨
Boca seca,👄
Olhos marejados...👀
Dois barcos naufragados🚢🚢
Nesse oceano revolto
De incertezas e medos.
Ânsia,
Ansiedade,
Maldade do tempo,
Que foge ao nosso controle.
O futuro trazido para o hoje,⏰
O hoje lançado ao passado.⏳⌛
Oceano de angústias
Atravessado a nado...🏊
Resistirá meu pequeno barco? ⛵
"Viver é preciso"...
(Mas custa caro!)
Navegação errante,
Sem rumo, sem mirante...👿
Navegar,
Remar,
Rumar ao nada,
Naufragar...🏊
Ânsia,
Ansiedade...
Medo dos bichos do mato
Escondidos na cidade...👹
Vanda Felix



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Luz


A luz
Que a meus olhos
Escapa
É a mesma
Captada
Nos olhos seus
A luz
Que ilumina
Tua alma
É a mesma
Emanada
Pelos meus...
Vanda Felix

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Desligados




Coloquei-me em modo "off",
Depois, fiquei em " stand by",
Tentando negar esses dias,
Pesados dias,
Os quais não queria
Registrar na memória...
Uma tentativa frustrada de fuga
Desses tristes episódios,
Que, agora, fazem parte da minha,
Da sua,
Da nossa história...

Uma sequência de tristezas,
De perdas irreparáveis
E dores sem fim.
Sofro pelos que se foram,
Sofro pelos que ficaram,
Sofro por ti
E por mim.

A frieza e a gana dos homens,
Desvalorizando a vida do semelhante,
Uma situação degradante
Onde o dinheiro fala mais alto.
Quem tem mais é que dá as cartas do jogo
A despeito da tristeza
E da dor
Estampada em cada semblante
Dos que ainda preservam sentimentos
Como empatia,
Solidariedade e amor.

E segue nossa história de medos,
De incertezas e desvalor.
Não se respeita quem é pobre,
O preto, o gay,
A mulher e o professor.
Não se respeita a vida alheia!

Ao sistema somente interessa
A manutenção da ordem já posta,
Aquela velha ordem que mantém
Tudo como lhes convém:
Dinheiro nos bolsos,
Nas cuecas,
Calcinhas e malas.
Acham mesmo bacana
Ver a impunidade reinar soberana.
E, a nós, que assistimos a tudo
Impassíveis,
Nada mais resta
Além de nossa voz.

Mas gritamos pra dentro,
Não sabemos nos fazer ouvir,
Não sabemos empunhar nossas armas,
Desconhecemos nossa capacidade
E temos medo de lutar...

Por desconhecermos nossa força e poder
Acabamos por nos resignar
Diante de todas as desgraças
Que não param de acontecer...
Vanda Felix

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Adormecido

Adormecido corpo,
Que ao meu lado repousa.
Inquieta alma, esta minha,
Que o sossego desconhece.
Ressonar profundo,
Involuntários movimentos.
É impagável
A paz desses momentos,
Em que nossos papéis se invertem
E repousas, inerte,
Ao lado meu,
Bem juntinho...
Sem sombra dos teus sonhos,
Abdico dos meus,
Somente para olhar-te
No gozo pleno
Da contemplação.
Vanda Felix

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Lei do retorno




A presença não notada,
A ausência não sentida,
Pequenos rasgos na alma,
Que se tornam grandes feridas.
Ou a gente se torna indiferente,
Ou sofre por toda vida.
Um aceno,
Um sorriso,
Um aperto de mão negados,
São golpes desferidos
No velho corpo cansado.
Dar as costas a uma história
Que se tentou escrever,
Apagar, de vez, a memória,
É difícil,
Mas é assim
Que deve ser.
Ser diferente entre os iguais
É quase crime hediondo.
O desprezo,
O escárnio,
O sarcasmo
Ferem mais que punhal novo.
O feio,
O pobre,
O preto,
O gordo,
O gay,
O velho,
O doente
Não são tratados como gente
Por aqueles que se julgam
Mais gente
Que a própria gente.
Acordei nauseabunda,
Enojada desse mundo
E dessa gente imunda,
Que se julga mais que os outros.
Vou me livrar desse enjoo
Vomitando toda a ira,
Todo o desprezo que sinto
Por essa gente sem princípios,
Sem sentimento de empatia,
Sem a mínima simpatia
Pela dor que o outro sente.
Vou me livrar desse mal,
Que tão mal a mim me faz,
Pois a mim, tanto faz,
Estarem por perto ou longe.
Vou tratá-los com deferimento,
Com a habitual simpatia,
Vou levar meu dia a dia,
Sem deixar que me atinjam.
O que é deles está guardado,
Vai voltar redobrado,
Pois aqui se faz, aqui se paga,
E a vida sabe cobrar...
Acredito na lei do retorno,
E o que gira em nosso entorno,
Somos nós que atraímos.
Quero atrair coisas boas,
Portanto, o bem, hei de fazer!
É certo, que o Universo conspira...
Se contra, ou a favor,
É você que o inspira
Por meio de sua postura.
Por isso, para e respira,
Absorva as coisas boas
E não pira,
Que nada vem por acaso.
Vanda Felix

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Autodefinição



Minha forma é muito livre,
Minha alma é muito leve,
Mas minha dose,
(Ah, essa!)
É muito intensa,
Pesada.
Não meço,
Não enquadro,
Não sigo modelos.
Não doso,
Nem adequo escalas.
Expresso o que sinto,
Manifesto o que penso
Por meio de gestos,
Atitudes, palavras.
Deixo claro o que quero,
Como quero,
Quando quero...
Se não quero, não escondo.
Exponho meus desagrados
E sei que nem sempre agrado.
Declaro meus medos,
Revelo meus segredos,
Guardá--los, pra quê?
Sou limpa,
Sou livre,
Não sei me esconder.
Se me aceitas,
Te aceito,
Se, não...
Não me importo!
Não sou rês carimbada,
Não sou carta marcada,
Nasci desse jeito
E assim vou morrer!
Vanda Felix

domingo, 20 de janeiro de 2019

Marina




Na pele,
Nos pelos,
Nas unhas,
Cabelos
E ossos...
Meus olhos
Te olham,
Te reviram
Do avesso.
Teu toque
Me toca
Além do corpo,
Na alma...
Toda manhã
Eu me perco,
E toda noite
Me acho
Em teus braços
E beijos.
Me cuidas,
Te cuido,
Te amo
E desnudo
Teu universo
Obscuro,
Sou teu porto seguro,
Sua menina,
Marina.
E és meu cais,
Ancoradouro
De onde meu frágil
Barquinho,
Que não carrega
Tesouros,
Não quer zarpar jamais...
Vanda Felix

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Dialógica do tempo


Tempo, tempo...
Passa, passa três ou quatro vezes
A alimentar todos os desesperos,
Desejos
E encantamentos.
Hoje, sem contratempos,
Amanhã? Quem o saberá?
Tempo bom
É o que corre lento,
Com o barco a favor do vento,
Deixando livres
Todos os meus sonhos,
Todos os meus pensamentos.
Tempo de ir,
Tempo de vir.
Hora lá,
Hora aqui.
Liberdade de sorrir
De coisas bobas,
De coisas boas,
De coisas sérias...
Tempo de espera,
Na porta de entrada
Ou na janela.
A nutrir de esperança
A velha,
A moça
E a criança...
Tudo vem em seu tempo certo,
Tanto risos, quanto lágrimas,
E vai, quando tem que ir.
Não pede para partir,
E nem sempre se despede.
Cura dores,
Traz novos amores.
O tempo, que tudo colore
Também acinzenta o mundo.
Céu azul
Ou negras nuvens?
Vai...
Se esvai...
Escorrega por entre os dedos,
Qual areia da ampulheta
( E não adianta invertê-la)...
Escorre, grão a grão,
A despeito da dor,
A despeito da opressão
Tão forte em  nosso coração...
O tempo vai e não volta mais.
Não olha o que deixou para trás.
Passa, sem pressa,
Mas passa.
E nem sempre nos leva junto.
Passa pela viela,
Pela avenida,
Pela alameda...
Passa mesmo pela fresta...
Deixa marcas em minha testa
E nos cantos dos olhos
E da boca.
Mas a mais profunda,
Sangrenta
E dolorida
É a ferida
Que deixa no coração.
Tempo-clima,
Tempo-relógio.
Já escrevi
Meu necrológio,
Mas não vou ficar parada,
Esperando, sem fazer nada,
Em qualquer beira de estrada
A minha hora chegar.
Sou mulher de atitude,
E mesmo que nada mude,
Eu necessito tentar.
Vanda Felix

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Sete filhos de Maria





Sete cores do arco-íris,
Sete dias da semana,
As sete maravilhas do mundo,
Sete filhos de Maria,
Sete dores,
Sete alegrias...
Sete filhos de Maria,
Seis meninas,
Um menino.
Sete histórias,
Sete destinos.
Dores e amores
Elevados à sétima potência.
Muito amor
E sofrimento,
Misturas de sentimentos,
Que fazem parte
Da existência.
Maria,
Vivendo seu dia a dia,
Trabalhando com afinco,
Sem descanso,
Foi moldando,
Como barro,
Cada qual com muito esmero,
Com cuidado,
Em exagero,
Buscando a perfeição da obra.
Sete vidas,
Com dificuldades vividas,
Todas elas mantidas
À custa de disciplina e trabalho.
Uma só Maria,
Multiplicada por sete,
Cada qual em seu caminho,
Uns de asfalto,
Outros, pedregulhos,
Mas em todos a persistência,
A luta pela sobrevivência
Ensinada por Maria
E aprendida com obediência.
Minha Maria é única,
Mas,
Quantas Marias há neste mundo?
Setenta?
Setecentas?
Sete mil?
Cada qual com sua singularidade,
Construindo com dignidade
Cada estrada,
Cada morada,
Cada parede deste Brasil.
Vanda Felix

Retomada

 Há tempos não percorria estas páginas... deu até saudade, agora! É que a vida anda tão atribulada, tão conturbada, que meus hábitos mais re...