segunda-feira, 4 de março de 2019

Sonhos felinos

   Cansaço físico e mental... Inquieta mente, que não favorece ao repouso, mas, enfim, por fim, cumpre-me sucumbir (sob protestos desta mesma mente, já doente e desgastada) à malemolência do corpo e entregar-me ao aconchego dos braços amorosos de um Morpheu, também adormecido, talvez inebriado de seus próprios encantos...
   De súbito, um despertar alucinado, paranóico, sem sentido ou razão de sê-lo: sobre o mesmo leito em que jaz meu corpo cansado, uma CPU antiga, horizontalmente disposta ao lado de um monitor (que, creio, me monitore), em cuja tela luzia uma frequência cardíaca baixíssima, quase que linha reta. Por sobre a negritude da CPU combalida, um gato, também negro, ressonava o sono dos inocentes... Ruídos, arranhões e chiados: as "vozes" alteradas dos ratos, em assembleia, a decidir democraticamente o momento oportuno e exato a deixar o auto-imposto cárcere. Um a um, camundongos mínimos, luzídios e azeviches deixam o interior da máquina que os abriga, perfilando-se sobre a mesma, ao lado do felino ressonante. Na sequência, um séquito de formigas, também negras, deixa o mesmo abrigo, até então partilhado e soma-se ao exército de roedores, encarando-me, desafiadoramente...
   A frequência dos batimentos, que o velho monitor registra, cai a zero e a linha reta, exibida na tela, denota minha passagem a outra esfera.
   Enquanto isso, meu gato guardião segue ressonando o sono dos justos, o sono dos puros, talvez absorto em seus próprios sonhos felinos.
Vanda Felix

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