sábado, 14 de agosto de 2021

Renúncias...

 Ela não bebeu,

Não fumou,

Não se arriscou a dar vexame 

Numa pista de dança... 🩰

Sempre cantava baixinho

Para não incomodar seus vizinhos.

E eram músicas de acalanto,

Para dar vazão ao pranto, 

Acalmar o coração ferido.



Ela pouco ousou,

Sempre usou de diplomacia .

Foi alegre,

Muito alegre,

Mas sem fazer alarde.

Sempre cordial e amável, 

Fosse cedo ou fosse tarde.

Mas padecia de dores da alma,

Que se refletiam em seu corpo.

Padecia de ausências,

De amores não vividos,

Tinha medo do futuro

E saudades do passado .


Se sonhou,

Com que sonhou, 

Não se sabe,

Pouco se soube. 

Discrição foi sua marca

A vida toda.

Guardava consigo os encantamentos,

As ilusões, 

Os desapontamentos.


Não bebeu,

Não fumou,

Não se arriscou a dar vexames...

Se sonhou, não se sabe.

Passou pela vida,

Curou as próprias feridas

Sem queixar-se a ninguém. 

Renunciou a amores,

Curou suas próprias dores

E engoliu seus desejos.

Desejos que a sufocaram...

Vanda Felix




"Se quiseres conhecer uma pessoa, escuta-lhes os sonhos."


Mia Couto

sábado, 7 de agosto de 2021

Repouso

 As regras

Que me regem

Não são rígidas, 

Não são rijas.


Barco solto

Em alto-mar, 

Vagueia

Ao sabor dos ventos

Que sopram nas velhas velas...


Barco solto 

Em alto-mar,

Sem leme,

Sem rumo,

Sem âncora. 


Ao sabor das ondas

Vagueiam meus pensamentos. 

Pássaro perdido

Sem pouso certo.

Ora, na rocha, 

Ora, na praia,

Ora, no galho,

Que balança 

À mais suave brisa.


Causa insegurança, 

Mas traz emoção, 

Desafio.

Acelera, no peito,

O pacato coração. 


O barco

Perdido no mar,

O pássaro 

Livre no ar

São minha alma,

Que, aos poucos,

Se acalma,

Ao encontrar o pouso,

Local de repouso,

Na curva do teu abraço, 

Meu ponto de apoio,

Meu porto seguro.

Vanda Felix





domingo, 1 de agosto de 2021

Houve um tempo...

Houve um tempo, 

Há muito tempo,

Em que eu fazia planos 

E tinha sonhos

Para quando chegasse aos vinte anos... 

Esse tempo chegou,

Passou e hoje é saudade.

Vinte anos era muito tempo

Quando tínhamos pouca idade.

Infância, 

Adolescência, 

Inocência,

Imaturidade.

O tempo passou e virou história,

Mas não história doída, 

Que fosse ruim de ser recordada.

É história gostosa,

Boa de ser revisitada.

Lembrança boa e suave,

Que se guarda na memória. 

Foram tempos bons,

Tempos felizes, 

Onde o pouco fazia milagres.


A menina daqueles tempos

Ainda habita em mim,

Faz parte do que me tornei,

Do que hoje sou

E daquilo que ainda serei...

Cada fase não suplanta a anterior.

A ela se agrega,

Se torna essência. 

Soma, 

Acrescenta narrativas,

Memórias 

E experiências.

São fatos de nossa vida,

Fragmentos de nossa história. 

O que a menina do amanhecer me ensinou de bom,

A adolescente da tarde aprimorou

E, hoje, a jovem senhora, ao cair da noite,

Tem muito do que delas ficou

Registrado na memória, 

Nas marcas que o corpo carrega,

Nos hábitos que incorporou

E nas ações que pratica, 

Mesmo que, disso tudo

Não carregue consciência. 


Tornei-me forte

Por imposição da vida.

Mas não sei represar minhas dores.

Dou vazão, 

Deixo correr as lágrimas, 

Que brotam no peito 

E deságuam no olhar.

Embora já não tenha pernas 

Para acompanhar o ritmo do mundo,

Já não tenha braços 

Para enlaçar a todos que amo,

Que aprendi a amar

Ao longo dos longos anos.

Meus dentes já não mastigam as novidades,

Me engasgo, 

Me atrapalho.

A cabeça já não trabalha com a razão, 

Quer uma pausa, 

E, quem agora manda é o coração. 

A memória curta,

O corpo enfraquecido,

Mas o coração segue a mil.

Já não pulo muros,

Pouco desço escadas,

Preciso de apoio,

Preciso de guia.


Mas a memória do outrora é viva,

Traz o meu ontem para o hoje.

Meu passado está presente,

Há de me ser companheiro 

Pelo futuro que me resta.



Vivo meu momento,

Com a intensidade do adolescente 

A descobrir seu primeiro amor.

Sem grandes planos,

Sem economias, 

Cada novo dia

Nasce para ser vivido

Com entusiasmo e ousadia.

Foi-se o tempo das ilusões, 

Foi-se o tempo dos engodos. 

Hoje é tempo das certezas,

De saborear cada conquista, 

De folhear as páginas da revista,

Sem querer copiar o padrão...

Sou quem sou

Graças às histórias que vivi. 

Sou quem sou

Graças as escolhas

(Certas e incertas)

Que fiz, ao longo dos meus dias.

E sou feliz, comigo mesma,

Por ter me dado a chance

De viver tudo o que pude, 

De fazer o que desejei

De acreditar em meus sonhos,

Muitos dos quais,

Sonhados enquanto, ainda, acordada.

Vanda Felix




Retomada

 Há tempos não percorria estas páginas... deu até saudade, agora! É que a vida anda tão atribulada, tão conturbada, que meus hábitos mais re...