Sem frescura

Eu, você e um bom vinho...

Coisas boas que ficaram pelo caminho,

e que me dão saudades,

em razão da intensidade

dos sentimentos que te dediquei...

Eu, você, em nosso cantinho...

Nossos momentos de carinho,

de diálogo e boas risadas,

hoje, só podem ser lembradas,

pois você se foi e sozinha eu fiquei...

Eu e você, numa tarde chuvosa...

Não havia, para mim, coisa mais gostosa

que ouvir suas histórias de outros tempos,

viajar em suas palavras e esquecer meus tormentos,

como, desde menina, sempre sonhei...

Hoje, só restamos o vinho e eu,

Você foi embora, pois nunca foi meu,

e eu fiquei só, nesta noite escura,

em que tudo o que queria era ter-te, assim, sem censura,

realizando o que mais desejei:

- ser tua, sem frescura!

Vanda Felix

Descaminhos

Navego num oceano 
de ideias difusas,
sentimentos confusos,
me afogando no medo, 
na saudade e na solidão...
Sigo, sem destino certo, 
por uma estrada
que me conduz ao nada,
onde tudo o que vejo
são precipícios e escuridão...
Sigo sozinha 
neste vale de sombras,
onde tudo assombra
meu castigado coração.
Temo a próxima curva
deste rio de águas turvas, 
pois sei que não terei
o amparo de tua mão.
Mas vou em frente, 
mesmo com medo
de saltar do rochedo
e estatelar-me no chão!
Só não perco a esperança
de ali, logo adiante,
reencontrar-te, meu amante,
minha tábua de salvação!
Então, seguirei contigo,
que serás o meu abrigo,
proteger-me-ás dos perigos
e acalmarás meu coração!
Então, porás fim ao meu sofrimento
e reacenderás 
meu mais puro sentimento...
Ficaremos em harmonia,
preenchendo nossos dias,
a ocupar-nos desta paixão!
Seguiremos felizes 
por uma estrada florida, 
gratos à Deus pela vida
e pela nossa união...
Talvez seja utopia,
mas o que me move, 
a cada dia,
é a crença nesta ilusão!
Já esqueci todas as minhas mágoas
e rogo à Deus que o traga,
deixo aberto, meu coração...

Vanda Felix

Para sempre...

Por que optas em seguir por caminhos errantes?
Por que renegas o carinho que te dou,
nascido do fundo de minha alma?
Ah, quanto poderíamos experienciar juntos!
Cheiros, texturas, sabores...
Como queria dividir 
meus melhores momentos contigo!
Ter-te em meu colo,
acordar abraçada por ti...
Faria-me a melhor das amantes,
tudo em prol de satisfazer-te!
e, ao satisfazer-te, 
satisfaria-me a mim mesma...
Por que queres que te esqueça?
Que mal lhe causa este amor tão puro?
Esquecer-te 
seria matar minha alma,
que, sem tua lembrança, 
vagaria no escuro,
pois tu és a seiva 
que me alimenta,
que nutre meus sonhos 
e esperanças,
que me impulsionam, 
desde criança,
a ir tão longe, 
quanto necessário,
em busca de ti...
Esquecer-te 
seria negar minha identidade,
construída para te dar felicidade.
Como quisera 
ter sido o que buscavas,
corresponder ao que esperavas,
completar-te 
nas lacunas mínimas!
Oh, dor do fracasso 
que me atormenta!
Sinto-me vazia, 
sem a espera de tua presença,
que me acalenta a alma 
e acalma o espírito...
Esquecer-te 
seria negar-me o ar,
do qual necessito 
para respirar,
é privar-me da água 
que aplaca a sede,
negar-me o alimento, 
que me dá energia...
Penso em ti, 
noite e dia,
e, por ti vivo 
cada instante,
meu eterno menino, 
e amante,
que se faz de mim, 
tão distante, 
mas que viverá nas minhas entranhas
para todo o sempre,
nas lembranças que trago, 
tatuadas no corpo,
tatuadas na alma!
Se esquecer-te, 
já estarei morta,
mas ainda tenho muito o que viver!
E viverei, todos os meus dias,
na esperança de novamente ver-te
adentrando aquela porta,
adentrando em mim...
... e em mim e comigo permanecendo,
reacendendo esse amor, que não tem fim!

Vanda Felix

Máscaras

Às vezes,
considero-me uma fraude
por mostrar ao mundo
alguém
que não sou eu de fato,
mas quem eu queria
[ou deveria] ser...
Meu riso oculta
uma dor infinita,
incompletude do meu ser
inacabado,
falho...
Sou apenas um retalho
do que deveria...
Cercada de pessoas
[boas e más]
estou sempre sozinha
[por dentro],
solidão de alma,
não de corpo...
Presenças físicas
não compensam
a ausência de espírito.
Mostro ao mundo 
um alguém
que não existe,
mas quem eu gostaria de ser.
Apenas em meus poemas
[ou nos braços teus]
me desnudo por completo.
exponho minha essência,
minha alma,
meus desejos...
Em teus braços
encontro conforto
que em minha cama não há...
Teu peito,
melhor travesseiro,
lugar de sonhar..
Tua boca,
melhor alimento,
para me sustentar...
Meus sonhos,
lugar ideal
para te encontrar...
Minha casa,
sem tua presença,
é um purgatório
para minha alma perdida,
que sofre da angústia
de ser preterida,
de ser esquecida,
num canto deixada
à própria sorte,
perdendo o encanto
de lutar pela vida...
Assim sigo meus dias,
sem nenhuma emoção,
sonhando com encontros
que não acontecerão...
Por vezes, eu penso,
ter sido tudo um sonho,
do qual não queria
jamais acordar...
Mas a noite se foi,
raiou mais um dia,
sem graça, sem gosto,
nenhuma alegria,
porque não vieste,
trazer-me o amparo,
que eu necessito...
Procuro-te, em vão,
pois não voltarás
a segurar minha mão,
acalentar meu pranto,
trazer de volta a paz
ao meu coração...

Vanda Felix

Autopsicografia

Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem  o que escreve ,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter  a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração .

Palavras

Palavras que nascem de momentos
intensamente vividos
são palavras eternas...
Brotam no peito e agigantam-se,
sufocam, se não saem pela boca.
Comprimem o coração, se não proferidas...
Nascem do amor, ou da dor,
perpetuam-se em folhas de caderno
ou na memória de um computador,
de onde ganham os olhos e os ouvidos
da pessoa, à qual se destinam...
Ás vezes, são ignoradas,
outras, incorporadas,
fazendo no coração do outro,
sua morada...
Às vezes, são acalento,
apaziguam corações e pensamentos,
em outras, tornam-se tormentos,
ferem a alma,
destroem sentimentos.
Se houvéssemos de ser conscientes
do poderio de nossas palavras,
não as proferiríamos em vão,
não as jogaríamos ao vento...

Vanda Felix

Últimas palavras

Não tente me amordaçar!
Não queira fazer com que eu engula
palavras e sentimentos...
Por muito guardei-os comigo,
sofrendo em silêncio
a angústia da dúvida...
Custou-me muito a confessar,
mas foi grande o alívio ao coração.
Meu destino, depositei em tuas mãos.
Viraste minha vida do avesso,
puseste meu mundo de pernas pro ar!
Mas não mais me queres, enfim,
segues tua vida, sem querer saber de mim.
Não tiveste, por mim, reconhecimento,
pisaste em meus sentimentos!
Meu coração, esmagado, 'inda chora,
mas vou superar, já é hora!
Vou dar continuidade à minha vida,
e, mesmo com a alma ferida,
mesmo que não consiga te esquecer,
buscarei nova chance de conhecer
outro alguém, que me saiba querer...

Vanda Felix

Homenagem à Dona Hercília

São Luiz do Paraitinga
nos deu Hercília de Campos Costa,
mulher altiva e guerreira
da qual muita gente gosta.

Muito cedo em sua vida
engajou-se à militância,
aos pobres, dava guarida,
à vida, dava importância.

Lutava pelos trabalhadores
em busca de condição,
e também por moradores
de seu bairro e região.

Sempre fez o melhor para todos,
dava-se bem com as vizinhas,
lutou por creches, iluminação e asfalto,
segurança e moradia.

Teve importância política,
conheceu gente influente,
mas não desistiu das lutas
nem quando ficou doente.

Falava o que era preciso,
doesse a quem quer que fosse.
era líder nata do Ipiranga,
onde o riacho nunca foi doce.

Mas o seu tempo chegou
e Deus a chamou à eternidade,
talvez, lá o assessore
e interceda pela comunidade.

Seu nome foi dado a esta escola
em uma justa homenagem.
Quem fez tanto pelo bairro
deve ser perpetuada,
dos moradores, na memória,
para que nunca se esqueçam
que somos nós quem fazemos a História.

Seu exemplo de vida,
de garra e desprendimento
não deve ser esquecido,
deve ter prosseguimento,
por isso, valente Hercília,
sê modelo de atitude
para todos nesta escola:
funcionários, professores,
alunos e suas famílias.

Vanda Felix

A pedido de Camila, redigi esta singela homenagem à Dona Hercília de Campos Costa, que foi uma batalhadora e líder comunitária que sempre buscou melhorias para a comunidade Ipiranguense, em especial para os mais necessitados do Parque Bristol e Jardim São Savério.

(Poema lido pela Professora Mírian Mascarenhas, no ato de inauguração da E.M.E.F. Hercília de Campos Costa, nesta data, 14/03/2014).

Fragmento de "Poemas de amor", de Pablo Neruda

Se me esqueceres

Quero que saibas

uma coisa.


Sabes como é: 

se olho

a lua de cristal, o ramo vermelho

do lento outono à minha janela,

se toco

junto do lume

a impalpável cinza

ou o enrugado corpo da lenha,

tudo me leva para ti
,
como se tudo o que existe,

aromas, luz, metais,

fosse pequenos barcos que navegam

até às tuas ilhas que me esperam.
 
(...)

Pablo Neruda - 

in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"

(Amooooooooooooooooo)!!!!!!!!!!!!!!

Tão pouco, e era o bastante...

Um telefonema teu bastaria
para encher meu coração de alegria...

Um "olá", dito baixinho, discreto,
te traria pra mim, bem mais perto...

Pequenos gestos de carinho e emoção
muito bem fariam ao meu coração.

A certeza de tua amizade
aplacaria minha ansiedade.

Muito te quis, sem nada exigir,
pois sempre tive tão pouco a lhe pedir!

Tua presença [apenas!] me bastava,
pois tinha-te nos sonhos que sonhava!

Neles, você me pertencia,
não importando, se fosse noite ou dia...

Neles, me realizava,
e de te amar [infinitamente] jamais me

 cansava...

Vanda Felix

Em algum lugar no tempo

Biquini Cavadão

Não guarde mágoa de mim 
Também não me esqueça 
Talvez não saiba amar 
Nem mesmo te mereça 

Como as ondas do mar 
Sempre vão e vem 
Nossos beijos de adeus 
Na estação de trem 

Um gosto de lágrima no rosto
Palavras murmuradas que eu quase nem ouço
Que eu quase nem ouço 

Em algum lugar no tempo 
nós ainda estamos juntos 
Em algum lugar 
Ainda estamos juntos 
Em algum lugar no tempo 
nós ainda estamos juntos 
pra sempre 
pra sempre ficaremos juntos 

Não tenha medo de mim
Não importa o que aconteça
Não me tire da sua vida
Nem desapareça

Como as ondas do mar 
Sempre vão e vem 
Nossos beijos de adeus 
Na estação de trem 

Um gosto de lágrima no rosto 
Palavras murmuradas que eu quase nem ouço
Que eu quase nem ouço 
Em algum lugar no tempo 
nós ainda estamos juntos 
Em algum lugar 
Ainda estamos juntos 
Em algum lugar no tempo 
nós ainda estamos juntos 
pra sempre 
pra sempre ficaremos juntos

Link: http://www.vagalume.com.br/biquini-cavadao/em-algum-lugar-no-tempo.html#ixzz2vtKXALd9

Pedido

Vem cá, meu garoto travesso,
aquece-me a alma, que treme de frio,
por favor, não me digas que não te mereço,
deixes de ser tão cruel e arredio...

Vem cá, meu garoto carente,
é teu o meu colo, te dou meu calor,
tua alegria me deixa contente,
pena não sentires, por mim, mesmo amor...

Deixa de birra, deixa de marra,
volta aos meus braços, que é teu lugar!
Chega de manso, por trás e me agarra,

me faz prisioneira,
me envolve em teus braços,
prometo ser tua pela vida inteira!

Vanda Felix

Palavras doces

Persistência,
ou teimosia?!
Por que insisto tanto num querer
que não me quer mais?
Em verdade, nunca quis, de fato...

Confiança,
ou ingenuidade?!
Por que acreditei em palavras
ditas no calor de uma emoção
apenas física,
não do coração?

Palavras, doces palavras...
Ecoam nas minhas lembranças,
tão doces, como se ditas agora,
momento em que a saudade me consome,
mas, de todas as doces palavras,
a mais doce ainda é o seu nome!

Vanda Felix

Cacos

Lembro-me de ouvir alguém dizer,
certa vez,
que deveríamos nos debruças
sobre nossos sonhos...
Debrucei-me sobre os meus,
e quase caí do parapeito.

Sete andares é muita coisa!
Mas talvez as sequelas
[da queda]
fossem menores do que cair
do alto dos 1m60 [mais uns 10 cm do salto]
do meu orgulho ferido...

Orgulho ferido,
alma ferida
[a sangrar], magoada...
corpo dolorido...

Passo a vida a juntar cacos,
tentar colar pedaços
de um cristal quebrado...

Assim sou eu,
tentando cicatrizar feridas
que o tempo insiste em reabrir.

Vanda Felix

Sina

Está difícil acreditar
que em teus olhos não vou mais me olhar.
Mais difícil esquecer
nossos momentos de prazer.

A dor, por dentro, rasga o peito,
dilacera, arde, não há jeito;
não há remédio, nem cura,
estou a um passo da loucura.

Penso em ti a todo instante,
meu menino, meu amante...
Quis ter-te, por inteiro, ao meu lado,
mas o destino nos deseja separados.

Fui ferida moralmente,
por escolha tua, consciente...
Me deixaste, triste sina!
Ensinaste-me a te amar desde menina...

E agora foges, não mais ficarás comigo,
nem sequer agiste como amigo!
Abandonaste-me à própria sorte,
chego mesmo a desejar minha própria morte...

Morta, seria livre dos desejos,
do ardor, que me consome, quando te vejo,
apagaria, para sempre, a chama ardente
e te daria a paz, de desfrutar de teu presente...

Vanda Felix

 

 



À toa

Enquanto o tempo passa,
e eu fico aqui, à toa,
penso em você
e minha mente voa...

Voa alto e vai longe,
vai direto ao teu encontro...
as ondas do meu pensamento
sintonizam você, e pronto!

Não adianta tentar lutar
contra a saudade a me ferir,
tenho medo de ficar,
tenho medo de fugir...

Pois fugir não adianta,
pensamentos me alucinam,
onde quer que eu esteja,
meus sentimentos me dominam.

Vanda Felix

 

 

Cotidiano

Todos os dias,
acordo vestida de saudade,
saudade do que não tive...

Passo a manhã esperando,
esperando por alguém que não vem...

Entardeço, alimentada pelo desejo
de reviver o que nem vivi...

Anoiteço, acalentada pelo sonho
de tê-lo por perto, aqui!

Na madrugada, dou de cara com a realidade
de que morrerei sentindo falta de ti...

Vanda Felix

 



Ah, meu menino!

Ah, meu menino!
Se acreditasses no que sinto,
terias pressa em retornar!
Bem sabes que não minto
quando digo te amar!

Ah, que bom seria
ter-te agora. aqui, comigo!
Trarias-me, de volta, a alegria,
só sentida ao lado teu,
quando sentia que eras meu,
mesmo que por instantes...
Por que ficas tão distante?
Tento esquecer-te, mas, em vão...
Segundo a segundo,
domingo a domingo,
tento esquecer-te e não consigo...
[ainda sonho contigo,
ao meu lado, aqui, comigo!]...

Vanda Felix