quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Horizontes

          Em mais uma noite, já madrugada, insone, eis que me veio uma grande vontade de escrever... Nada de profundo, nada de filosófico, apenas o retrato do meu momento: eis-me , neste agora, nas linhas que se seguem!

Longe daqui, longe de mim,
Muito, muito além dos limites da visão,
Neste instante, está quem eu amo!
História inacabada, mas intensa, ardente
Por todo o tempo em que foi possível desfrutá-la!
Sentimento forte, arraigado no peito...
Amor!
Corpos que não mais se acham,
Nem tentam!
Sentimento furioso,
Agora, dolorida lembrança...
Abraços sem braços,
Apenas lembrados
Na densidade de um nevoeiro
Através do qual
Olhos perdidos te buscam...
Vanda Felix


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Tenho dezoito anos e quero viver

          Conheci esta história, ainda na adolescência, num caderno de poemas (verdadeira obra de arte!) da colega Sandra Matos... Ainda hoje, decorridos quase trinta anos do contato inicial, o texto primoroso ainda ecoa em minha mente! Que sirva de aprendizado à juventude, como outrora serviu-me! Infelizmente, a autoria nunca me  foi revelada. Não importa... é quase um patrimônio universal, com um ensinamento atemporal... Reflitamos, então.
Vanda Felix

Tenho 18 anos, quero viver!

No dia em que morri, o sol brilhava aberto para a plena alegria de viver. Lembro-me que bajulei meu pai para me emprestar o carro. Queria dar uma voltinha e prometi-lhe que teria muito cuidado. Quando me deu as chaves, só de pensar em dirigir a vontade, mal pude me conter ansioso para botar o carrão a oitenta por hora. Saí logo a estrada... Queria correr, sentir o vento em meus cabelos, ver os cem por hora no velocímetro. Pisei firme no acelerador, alcancei os noventa, ultrapassei o cem. Um carro na minha frente não andava e quis poda-lo. Torci para a esquerda e meti o pé, mas não vi uma jamanta que vinha em minha direção. Ouvi um estrondo, pedaços de ferro e vidro voaram, sentir meu corpo especar-se e percebi que gritava de dor. Um grito só. Depois tudo sumiu na escuridão. Acordei, ao meu lado, os médicos, os guardas e enfermeiras. Meu corpo estava estraçalhado. Eu não sentia dor alguma, tentei erguer-me, mas não consegui sequer mover um dedo. Ao final cobriram-me com um lençol, puseram-me numa ambulância e levaram-me ao necrotério. Ei, tirem isso de cima de mim. Tirem-me desta mesa de mármore, por demais de fria. Eu não posso estar morto. Tenho só 18 anos. Minha namorada me espera, quero viver, tirem esse lençol que me incomoda, deixem-me sair daqui. Ninguém me ouvia, meu pai com o rosto lavado em lágrimas, disse que realmente era o meu corpo o de seu filho. Minha mãe, debruçada em meu peito, soluçava com desespero. Quero é viver, quero estudar, quero o amor de meus pais, quero namorar, competir esportes, sou um craque no futebol, a minha equipe este ano há de ficar campeã. Deus, dê-me mais uma chance, prometo que serei o melhor motorista do mundo. Tudo o que desejo é viver essa vida linda. Já disse: só tenho 18 anos, quero é viver!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Existência

          Existe (mora) dentro de mim uma pessoa triste e desmotivada, que se manifesta nos momentos mais inusitados, transbordando sua dor por meus olhos, ecoando sua voz em meus ouvidos, escorrendo seu fel em minha boca...
          Domina-me, corrói-me, afeta minhas relações e minha rotina... Afasta de mim qualquer esperança de felicidade e completude. Impõe-me sua presença, deixa tatuada em mim sua marca, em qualquer tempo e qualquer lugar. Poucos a percebem, às vezes, nem mesmo eu, mas sei que está lá, à espreita de uma oportunidade, alimentando-se de minha seiva, sugando meu entusiasmo e frustrando meus desejos...
          Existe (mora) dentro de mim uma outra pessoa, que o mundo não vê e com a qual me degladio todos os dias, especialmente todas as noites, que tenta me sufocar e me fazer sucumbir ao desânimo, à descrença, ao fracasso. Sei que não posso me livrar dela, pois faz parte de meu ser, de minha essência, mas também sei que é necessário dominá-la, permitir que meu outro "eu" se sobressaia e se consolide no mundo; um "eu" mais consciente, paciente, alegre e esperançoso, que desconhece os efeitos do desânimo,arregaça as mangas e vai em busca da realização de seus sonhos, sem medo de ousar e muito menos de ser feliz!
Vanda Felix

Eu sou rebelde porque o mundo quis assim
Lilian

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Poemas de Guilherme de Almeida

ESTA VIDA
Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero inventaria a morte.
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
Homem, eis o que somos neste mundo.
Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um monge me dizia: ó mocidade,
és relâmpago ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
esta vida não vale grande coisa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto;
o riso, às vezes, quase sempre, um pranto.
Depois o mundo, a luta que intimida,
quadro círios acesos: eis a vida.
Isto me disse o monge e eu continuei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um pobre me dizia: para o pobre
a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre.
Deus, eu não creio nesta fantasia.
Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.
Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!
Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver.



FLOR DO ASFALTO 
Flor do asfalto, encantada flor de seda,
sugestão de um crepúsculo de outono,
de uma folha que cai, tonta de sono,
riscando a solidão de uma alameda...
Trazes nos olhos a melancolia
das longas perspectivas paralelas,
das avenidas outonais, daquelas
ruas cheias de folhas amarelas
sob um silêncio de tapeçaria...
Em tua voz nervosa tumultua
essa voz de folhagens desbotadas,
quando choram ao longo das calçadas,
simétricas, iguais e abandonadas,
as árvores tristíssimas da rua!
Flor da cidade, em teu perfume existe
Qualquer coisa que lembra folhas mortas,
sombras de pôr de sol, árvores tortas,
pela rua calada em que recortas
tua silhueta extravagante e triste...
Flor de volúpia, flor de mocidade,
teu vulto, penetrante como um gume,
passa e, passando, como que resume
no olhar, na voz, no gesto e no perfume,
a vida singular desta cidade!
Autor: Guilherme de Almeida
Fonte: www.revista.agulha.nom.br 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Madrugada

 A chuva cai mansamente na madrugada,
 e entre um pingo e outro,
surge tão mansamente quanto, em minha alma,
o mesmo vazio, 
tantas vezes já vivido, tantas outras já sentido...
Agiganta-se no peito,
chega quase a sufocar,
deixa-me sem ar,
sem teto,
deixa-me sem chão...
Mina minhas forças e rasga-me o peito,
sem chances de defesa,
sem meios de enfrentar...
Afugenta esperanças,
revolve antigas lembranças,
ressuscita mágoas esquecidas,
desperta memórias adormecidas
e me causa medo...
medo de que não haja mais tempo
de vencer esse tormento,
causador de sofrimento
que tanto preciso evitar!
Vanda Felix




Robby Rosa - "Chuva fina"

Retomada

 Há tempos não percorria estas páginas... deu até saudade, agora! É que a vida anda tão atribulada, tão conturbada, que meus hábitos mais re...