quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Impassível diante do dragão, de Neymar de Barros (Republicação)

Faço minhas, as palavras de outrem...

Engraçado como podemos ser tão fielmente retratados nas palavras de outrem! Hoje queria muito escrever, mas não encontrava as palavras certas, então, resolvi me expressar por meio de um poema que, apesar de não ser de minha autoria, retrata-me com tal profundidade, que chego a me ver refletida nas palavras do autor! Chama-se "Impassível diante do dragão" e é já bem antigo, editado originalmente em 1973, no livro entitulado "Deus negro", de Neimar de Barros. Leiam, vale a pena conhecer-me mais a fundo por meio dele. Para tanto, basta inverter o eu lírico:

Impassível diante do dragão

Há quanto tempo nos conhecemos?
Sei lá!...
Eu vinha, você ia... foi um encontro comum,
          casual,
Milhares já se encontraram assim.
Depois eu comecei a sentir algo,
Talvez uma saudade sem razão,
Sei lá!...
Não era tristeza, não era alegria,
era uma indecisão de amar você.
E eu passava momentos olhando para a frente,
Desligado, sem ver nada.
Gozado! Olhava e não via!
Estava absorto, parado, consumido por mim:
Uma verdadeira estátua em introspecção!
Estava "encucado",
"Encucado" com ausência que era presença.
de repente, a interrogação indecisa foi
         evaporando,
E eu vi dentro de mim que era amor.
Você estava enquadrada nbo que eu queria,
Desde o sorriso até as lágrimas.
Você era o SIM diante do altar,
Você era a mão certa na escalada incerta,
Você era o horizonte nítido... o agasalho...
Mas eu cometi um erro:
Não perguntei se eu também era
Tudo isso para você.
E a verdade é que não era.
Eu não estava enquadrado no que você queria,
Eu era o NÂO.
Não era o sorriso, não era o agasalho, não era
         nada...
Era um ser andante maravilhosamente invisível
         para você.
De repente, a exclamação veio em "closed"
E eu fiquei afirmando seus defeitos,
fiquei procurando tudo que você fazia de 
         errado,
E você não fazia...
Fiquei torcendo pra voc~e me decepcionar.
Afundei-mne como arqueólogo nas ruínas da sua
         imagem adorada,
E você permaneceu intacta.
Eu quis desmanchar a ilusão,
Quis vomitar um amor que me assentava bem,
E torci pra você me decepcionar.
Eu queria tanto sentir raiva de você,
Ódio!
No entanto, você se manteve a mesma,
Impassível diante do dragão em que me
         transformei.
Então, me decepcionei comigo,
Porque não compensei o que queria
Com o que sentia.
E numa noite, não muito longe,
Resolvi selar a carta da despedida.
Fechei os olhos,
As lágrimas pingaram uma a uma,
E eu adormeci, sonhando o sonho da aceitação!
 by Neimar de Barros (1973, O Recado- Editora)

Boa noite a todos!
Vanda Felix

6 comentários:

  1. Eu conheço esse poema desde a minha adolescência. Só agora conheço o autor. Uma amiga dedicou esse poema naqueles caderninhos de recordação de final de ano. Na verdade, não tínhamos o amadurecimento para compreender tais palavras. Agora adulta e com algumas experiências, a gente entende a profundidade desses sentimentos, principalmente se vivenciamos momentos de decepção amorosa.

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  2. Também o conheci na adolescência, num caderno de uma amiga, Sandra Matos. Anos mais tarde, encontrei o livro num sebo, e o tenho até hoje...

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  3. Por que não dar crédito à autora Bruna Lombardi?

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    Respostas
    1. Conheci este poema, ainda na adolescência, num.livro entitulado "Deus Negro", de autoria de Neimar de Barros. Nunca soube que houvesse contestação quanto à autoria.

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    2. Se puder me fornecer a referência da publicação atribuida a ela, agradeço.
      Busquei em várias fontes e nada encontrei que fosse alusivo à autoria da Bruna.

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  4. De todo o poema uma frase eu nunca esqueci "impassível diante do dragão". Levei pra minha existência diante das adversidades da vida.

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