domingo, 26 de setembro de 2021

Nossos tempos neste tempo...

Há coisas que levam tempo. 

Há coisas que o tempo leva... 

Paciência para as que demorem o vir-a-ser,

Desapego pelas que são efêmeras. 

Desapegar não implica em querer menos,

Muito menos em desistir.

Mas em aceitar a transitividade. 


Hoje não mais sou 

Quem ontem fui, 

Amanhã, deixarei de ser quem sou, 

Porque nenhum de nós "é", 

Todos nós "estamos"... 

"Estamos" neste tempo e espaço 

(A que chamamos "nosso tempo")

A cumprir nossas missões de vida. 

A alguns, cabem missões mais longas. 

A outros, pequenas tarefas. 


Há coisas que levam tempo... 

Sejamos persistentes

E saibamos aguardá-las

No seu devido tempo.

Há coisas que o tempo leva... 

Saibamos aproveitá-las, 

Enquanto nos houver tempo, 

Antes que ele nos leve... 

Enquanto, por cá estamos, 

A ocupar esse espaço, 

Nesse lapso chamado "agora", 

Sejamos apenas leves... 

Vanda Felix




sábado, 25 de setembro de 2021

Afogamento

Vejo minha alma 

Do outro lado do espelho. 

Está translúcida 

 E cristalina. 

Ela me sorri 

E diz que tudo ficará bem, novamente. 

Tento retribuir o sorriso, 

Mas me cai um dente, 

Mordo a língua 

E faço careta. 

A alma, 

Do outro lado do espelho, 

Se faz séria, 

Franze uma ruga em sua testa, 

Fico preocupada. 

Estrangulada pela tristeza 

Deixo rolar 

Dos olhos 

Uma solitária lágrima 

Salgada e fria. 

Ela se agiganta, 

Se torna onda 

E inunda meu corpo. 

Morro afogada em mim mesma. 

Vanda Felix 



Imagem: Ludi de Oliveira 

domingo, 19 de setembro de 2021

Mil cantos

Eu canto,

Bem ou mal, 

Mas canto!

Para acalentar meu pranto,

Para amenizar minhas dores,

Para espantar meus fantasmas. 

Eu canto de felicidade,

Mas também entoo cantos tristes.

Canto gritos de protesto,

Canto cartas de denúncia, 

Canto amores malogrados 

E também finais felizes.

Soluço nas despedidas,

De quem partiu desta vida

E também em agradecimento 

A cada novo nascimento, 

Dando minhas boas-vindas

A cada novo rebento,

Que nos traz de volta a esperança.

Se canto bem

Ou canto mal,

Isso a mim pouco importa.

Canto desafinado

Canto fora do ritmo, 

Canto descompassado, 

Mas liberto meus demônios 

E me livro dos meus medos,

Na cozinha,

No meu quarto

E até dentro do banheiro.

Canto pra acalentar meu pranto,

Pra desfazer maus encantos,

Canto em todos os cantos

Todo dia,

O dia inteiro.

São mil cantos de alegria

E outros tantos de ousadia...

Vanda Felix



segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Busca

 Busco desviar maus pensamentos, 

Fico procurando coisas

Pra passar o tempo.

Tenho medo de que ele pare, 

Tenho medo de que ele siga...

Seguro seria

Voltar ao passado,

Aos momentos sem dor,

Momentos de alegria.

Mas, não há volta.

 Cada passo dado é um a menos a se dar.

Hoje me dói pensar no amanhã, 

Sem saber se ele chegará 

Ou se a ele chegaremos.

Como chegaremos?

Certo é que seremos outros,

Amadurecidos e calejados 

Pela dor e pelo intenso amor

Que vivemos, 

Que alimentamos, 

Que deixamos ir embora...

Mas que fez de nós quem somos,

Lapidados, aprimorados,

Cicatrizados em extensas feridas.

Eis ao que se resume

Este imenso mistério 

A que chamamos

Vida!

Vida cheia de histórias, 

Com pouca

Ou nenhuma glória, 

Vida de rima rica,

Vida de vidas pobres,

Sem cadência, 

Sem acordes.

Acorde logo pra Vida,

Você que está de cochilo,

Antes que caia o cachimbo

E lhe deixe a boca torta...

Vanda Felix




quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Último segundo

No último segundo 

Do último instante 

 Do último momento 

Bateu forte o desejo 

De voltar ao começo. 

 Ressuscitar esperanças, 

 Sonhos e projetos 

 Então, tão possíveis 

 De se tornarem concretos. 

Havia tempo, 

Havia vontade, 

Havia motivos. 



No último segundo 

Do último instante 

Do último momento 

Bateu em mim o medo 

De cerrar atrás de mim a porta, 

Que me apartaria desse universo, 

 Sempre tão controverso 

Ao qual sempre pertenci. 



No último instante 

 Do último segundo 

Do último momento, 

 Girei a maçaneta, 

Abri a porta 

 E me pus, a pé 

 Pela nova estrada. 

Mas dei uma última olhada 

E fiz ul breve aceno 

Aos que lá deixei. 

Parceiros de vida, 

Companheiros de luta, 

Irmãos de alma. 

Disse: "Até breve, 

Te espero, adiante"... 



No último instante 

Do último segundo 

 Do último momento, 

Fiquei confiante 

 Nos braços que se abriam, 

Ali, adiante, 

Pois o sol já brilhava 

Ao longo da nova estrada 

Para a qual eu seguia. 

A porta cerrou-se às minhas costas, 

Mas um novo horizonte 

Descortinou-se à minha frente. 

Vanda Felix




Retomada

 Há tempos não percorria estas páginas... deu até saudade, agora! É que a vida anda tão atribulada, tão conturbada, que meus hábitos mais re...