Perpetua-te

Perpetua-te em mim

nesse instante,

com teu respiro ofegante

de agonia e gozo,

rompantes

de puro prazer...

Perpetua-te em mim

no momento

em que eu mesma me atormento

pela culpa

de tamanha felicidade

em fazer-te minha metade,

e completar-te corpo e alma,

nesse êxtase que me acalma

e me traz serenidade.

Perpetua-te em mim

pelos toques,

pela língua que me roça,

pela boca que me chama

a esse corpo, que me ama.

Vanda Felix

Êxtase

No momento em que me adentras
abandono meu corpo.
Dou lugar a ti
e faço-me "voyeur" de nós dois

Contemplo-te na energia
em viril totalidade,
contemplo-me na entrega
ao gozo tão ansiado.

Fazemo-nos carne da carne,
dois corpos que se fazem único
na fusão de almas;
fluídos orgásmicos
inundam meu espírito.

Faço-me calma
e o semblante se faz sereno,
adormecida nos braços do cansaço,
com o cheiro bom do pecado,
transborda a realização do desejo.

Vanda Felix

Versos livres

Minha vida é poesia

sem métrica,
sem rima,
sem forma.
Ora lírica,
ora épica.
Às vezes, torna-se canção
ao ritmo do coração.
E, nesse descompasso,
que é a vida,
vou compondo meus versos
brancos,
livres,
tortos,
duvidosos...
Às vezes, paro,
às vezes, passo.
Não me apego a medidas.

Vanda Felix

Choro por mim mesma

O choro,
o soluço,
o rompimento do laço,
a falta de afeto,
a falta do abraço,
o medo, 
que assombra,
o colo,
que falta,
o novo,
que assusta,
a dor,
que maltrata...
Choro por ti,
pequena criança,
largada no  mundo,
já sem esperança,
querendo um afago,
ou mesmo um olhar,
que denote ternura,
que dê segurança...
Mas choro por mim
[mesma],
que também não te tenho,
e vivo sozinha
à espera do dia
que possas,
em meu colo,
sem frio,
sem dor,
sem tristeza
sorrir ou chorar,
mas só de alegria.

Vanda Felix