quarta-feira, 19 de março de 2014

Máscaras

Às vezes,
considero-me uma fraude
por mostrar ao mundo
alguém
que não sou eu de fato,
mas quem eu queria
[ou deveria] ser...
Meu riso oculta
uma dor infinita,
incompletude do meu ser
inacabado,
falho...
Sou apenas um retalho
do que deveria...
Cercada de pessoas
[boas e más]
estou sempre sozinha
[por dentro],
solidão de alma,
não de corpo...
Presenças físicas
não compensam
a ausência de espírito.
Mostro ao mundo 
um alguém
que não existe,
mas quem eu gostaria de ser.
Apenas em meus poemas
[ou nos braços teus]
me desnudo por completo.
exponho minha essência,
minha alma,
meus desejos...
Em teus braços
encontro conforto
que em minha cama não há...
Teu peito,
melhor travesseiro,
lugar de sonhar..
Tua boca,
melhor alimento,
para me sustentar...
Meus sonhos,
lugar ideal
para te encontrar...
Minha casa,
sem tua presença,
é um purgatório
para minha alma perdida,
que sofre da angústia
de ser preterida,
de ser esquecida,
num canto deixada
à própria sorte,
perdendo o encanto
de lutar pela vida...
Assim sigo meus dias,
sem nenhuma emoção,
sonhando com encontros
que não acontecerão...
Por vezes, eu penso,
ter sido tudo um sonho,
do qual não queria
jamais acordar...
Mas a noite se foi,
raiou mais um dia,
sem graça, sem gosto,
nenhuma alegria,
porque não vieste,
trazer-me o amparo,
que eu necessito...
Procuro-te, em vão,
pois não voltarás
a segurar minha mão,
acalentar meu pranto,
trazer de volta a paz
ao meu coração...
Vanda Felix


Autopsicografia

Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem  o que escreve ,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter  a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração .

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