domingo, 1 de agosto de 2021

Houve um tempo...

Houve um tempo, 

Há muito tempo,

Em que eu fazia planos 

E tinha sonhos

Para quando chegasse aos vinte anos... 

Esse tempo chegou,

Passou e hoje é saudade.

Vinte anos era muito tempo

Quando tínhamos pouca idade.

Infância, 

Adolescência, 

Inocência,

Imaturidade.

O tempo passou e virou história,

Mas não história doída, 

Que fosse ruim de ser recordada.

É história gostosa,

Boa de ser revisitada.

Lembrança boa e suave,

Que se guarda na memória. 

Foram tempos bons,

Tempos felizes, 

Onde o pouco fazia milagres.


A menina daqueles tempos

Ainda habita em mim,

Faz parte do que me tornei,

Do que hoje sou

E daquilo que ainda serei...

Cada fase não suplanta a anterior.

A ela se agrega,

Se torna essência. 

Soma, 

Acrescenta narrativas,

Memórias 

E experiências.

São fatos de nossa vida,

Fragmentos de nossa história. 

O que a menina do amanhecer me ensinou de bom,

A adolescente da tarde aprimorou

E, hoje, a jovem senhora, ao cair da noite,

Tem muito do que delas ficou

Registrado na memória, 

Nas marcas que o corpo carrega,

Nos hábitos que incorporou

E nas ações que pratica, 

Mesmo que, disso tudo

Não carregue consciência. 


Tornei-me forte

Por imposição da vida.

Mas não sei represar minhas dores.

Dou vazão, 

Deixo correr as lágrimas, 

Que brotam no peito 

E deságuam no olhar.

Embora já não tenha pernas 

Para acompanhar o ritmo do mundo,

Já não tenha braços 

Para enlaçar a todos que amo,

Que aprendi a amar

Ao longo dos longos anos.

Meus dentes já não mastigam as novidades,

Me engasgo, 

Me atrapalho.

A cabeça já não trabalha com a razão, 

Quer uma pausa, 

E, quem agora manda é o coração. 

A memória curta,

O corpo enfraquecido,

Mas o coração segue a mil.

Já não pulo muros,

Pouco desço escadas,

Preciso de apoio,

Preciso de guia.


Mas a memória do outrora é viva,

Traz o meu ontem para o hoje.

Meu passado está presente,

Há de me ser companheiro 

Pelo futuro que me resta.



Vivo meu momento,

Com a intensidade do adolescente 

A descobrir seu primeiro amor.

Sem grandes planos,

Sem economias, 

Cada novo dia

Nasce para ser vivido

Com entusiasmo e ousadia.

Foi-se o tempo das ilusões, 

Foi-se o tempo dos engodos. 

Hoje é tempo das certezas,

De saborear cada conquista, 

De folhear as páginas da revista,

Sem querer copiar o padrão...

Sou quem sou

Graças às histórias que vivi. 

Sou quem sou

Graças as escolhas

(Certas e incertas)

Que fiz, ao longo dos meus dias.

E sou feliz, comigo mesma,

Por ter me dado a chance

De viver tudo o que pude, 

De fazer o que desejei

De acreditar em meus sonhos,

Muitos dos quais,

Sonhados enquanto, ainda, acordada.

Vanda Felix




3 comentários:

  1. Cara Amiga e parceira de ofício, nobilíssima escritora e Regente,do Ensino Fundamental, das municipalidades diademense e paulistana, Wanda Felix, boa tarde!
    Que deleite inefável ler seus primorosos textos! Que a deusa da justiça e da sabedoria e Mnemosyne a tenham como pupila sempre! Saudações sapientes.
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Professor de Ensino Fundamental I aposentado das municipalidades diademense e paulistana.
    Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver, sem véus, sem ranços, com muita imaginação, autenticidade e gozo!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Muito obrigada, meu querido amigo, pelas elogiosas palavras. Além de grande honraria, trazem-me enlevo à alma! 💞

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