terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Dialógica do tempo


Tempo, tempo...
Passa, passa três ou quatro vezes
A alimentar todos os desesperos,
Desejos
E encantamentos.
Hoje, sem contratempos,
Amanhã? Quem o saberá?
Tempo bom
É o que corre lento,
Com o barco a favor do vento,
Deixando livres
Todos os meus sonhos,
Todos os meus pensamentos.
Tempo de ir,
Tempo de vir.
Hora lá,
Hora aqui.
Liberdade de sorrir
De coisas bobas,
De coisas boas,
De coisas sérias...
Tempo de espera,
Na porta de entrada
Ou na janela.
A nutrir de esperança
A velha,
A moça
E a criança...
Tudo vem em seu tempo certo,
Tanto risos, quanto lágrimas,
E vai, quando tem que ir.
Não pede para partir,
E nem sempre se despede.
Cura dores,
Traz novos amores.
O tempo, que tudo colore
Também acinzenta o mundo.
Céu azul
Ou negras nuvens?
Vai...
Se esvai...
Escorrega por entre os dedos,
Qual areia da ampulheta
( E não adianta invertê-la)...
Escorre, grão a grão,
A despeito da dor,
A despeito da opressão
Tão forte em  nosso coração...
O tempo vai e não volta mais.
Não olha o que deixou para trás.
Passa, sem pressa,
Mas passa.
E nem sempre nos leva junto.
Passa pela viela,
Pela avenida,
Pela alameda...
Passa mesmo pela fresta...
Deixa marcas em minha testa
E nos cantos dos olhos
E da boca.
Mas a mais profunda,
Sangrenta
E dolorida
É a ferida
Que deixa no coração.
Tempo-clima,
Tempo-relógio.
Já escrevi
Meu necrológio,
Mas não vou ficar parada,
Esperando, sem fazer nada,
Em qualquer beira de estrada
A minha hora chegar.
Sou mulher de atitude,
E mesmo que nada mude,
Eu necessito tentar.
Vanda Felix

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