domingo, 28 de fevereiro de 2021

Jardinagem

 No meu jardim de sonhos,

Garimpo meus planos,

Revolvo a terra,

Buscando raízes 

(Talvez,  minhas próprias)...

Reviro memórias,

Já adormecidas.

Meu "eu" primitivo grita

E entoa cantigas 

Que embalam antigas lembranças. 

Minha alma dança 

Tal qual a criança 

Molhada na chuva.

Resgato desejos,

Reponho energias 

Esgotadas no ir e vir

Do meu dia a dia.

Ressuscita minha esperança 

Que, há tempos, dormia,

Largada e caída

Num canto qualquer...

Há o tempo das flores 

E também das folhagens...

Vanda Felix


(Inspirado nas fotos da Sophie)


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Apenas queria...


Saudade nem sempre tem nome, 
 Nem sempre tem rosto, 
 Nem sempre tem data. 
É essa saudade, que hoje me assalta. 
Me pega de jeito, 
 Me joga no chão. 
 Saudade de um nada, 
Saudade do desconhecido, 
Do não vivido. 
É um buraco bem grande 
A ser preenchido 
Com não sei o quê. 
 É uma angústia que sufoca, 
É um medo de não reviver 
O que não foi vivido. 
Saudade sem nome, 
Saudade sem rosto 
É a mais dolorida. 
É oco, 
É vazio, 
É dor latejante, 
É ferida invisível, 
 Que arde 
Por dentro. 
Não há ineditismo 
Na minha saudade. 
Mas há estranhamento, 
 Admiração... 
Como faz falta 
O que não tive? 
Como posso querer 
Sem saber se foi bom? 
Não sei como era, 
Não sei como foi, 
Mas queria de novo, 
E de novo, 
E de novo... 
E, para sempre, 
Apenas queria...
Vanda Felix




 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

As gotas

 A gota

Que lhe cai da face

Desmancha 

Todo o disfarce.

Borra toda a maquiagem 

E revela

Por sob a cor, 

Que lhe cobre a cara

Sua verdadeira imagem.


A gota

Que lhe rola pelo rosto

Traz à tona

Todo seu desgosto.

Descobre a tez

E lhe deixa nua

Revela as dores 

E dissabores 

De sua vida sem gosto,

Sem sal,

Sem sabor.


A gota de lágrima, 

Gota de suor,

Gota de sangue quente,

     Fluidos corpóreos

     De seu corpo frágil, 

     Desfazem sua alma efêmera 

     Que vagueia solitária 

     Pelo breu,

     De léu em léu, 

     Clamando ao céu, 

     Que lhe recolha,

     Lhe dê abrigo

     E descanso eterno...

O céu não lhe atende,

Não lhe acolhe. 

Ninguém lhe estende a mão, 

Nem lhe ampara o corpo,

Que, em queda livre

Se estende ao chão. 

     Não há mais medo,

     Nem mesmo dor.


Calou-se a voz,

Cessou-se o suor.

Sem lágrimas, 

Sem sangue,

Sem adeus. 


As gotas

Que agora lhe escorrem

Pela face,

Não são de lágrimas:

São,  agora, de chuva,

Tão mansa e fria

Que lhe lavam o corpo,

Não mais a alma,

Pois esta,

Não mais presente,

Já vai distante

Deste lugar.

Vanda Felix




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A despeito do amor e da dor...

 Meu menino não é mais... 

Foi ensinamentos, 

 Foi sabedoria zen-budista. 

Tolerância, 

 Paciência 

 E muito, muito amor e carinho 

 Distribuídos indistintamente 

A quem necessitasse 

 Ou se dispusesse a receber 

Gratuitamente. 

Meu menino, agora memória, 

 Lembrança de tantas histórias 

 E saudades, 

Ainda doídas, 

De tudo o que passamos juntos 

Ao longo de nossas vidas. 

Soube ser e dar amor, sem cobranças, 

 Soube me confortar, em silêncio, 

Até já salvou minha vida. 

Entrou nela, por acaso, 

E jamais se afastou. 

Foi companheiro, 

 Foi confidente, 

 Foi testemunha de tantas coisas, 

E sempre será meu amor... 

A dor que me dói, 

Agora, no peito, 

É tamanha, que não sei 

Se vai passar algum dia, 

Mas seu descanso foi necessário 

 Para aplacar-lhe as dores físicas. 

 Descansa, meu anjo, 

Fica bem! 

Buscarei formas de ficar 

Também, 

Sem, jamais, me esquecer de ti. 

Teus irmãos também te sentem a falta, 

E é preciso zelar por eles. 

Queria que fosse de outra forma, 

Ou melhor, queria que não fosse... 

Mas foi, 

É desígnio para todos nós.

Vanda Felix


(Ao meu anjo, Jobim...)



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Embriaguez

Ansiedade no coração. 

Um copo de vinho na mão. 

Um grande gole de ilusão 

E, no compasso dessa paixão, 

Dois pra lá... dois pra cá...

Rodopio pelo salão,

Feito brinquedo-pião, 

Sem sair do lugar.

Dois pra lá... Dois pra cá...

Taça de vinho na mão. 

A cabeça rodopia

Mais que o corpo.

Vou à Lua,

Vou ao Canadá, 

Sem deixar de estar por cá. 

Viajo solta no espaço, 

Com os pés cravados no chão. 

Presa ao solo,

Cálice de vinho na mão. 

Cabeça leve, flutuante,

Coração marinheiro navega

Pelos mares da imprecisão. 

Vinho tinto,

Tinta rubra na boca.

Branco, rosê,  delicado, 

Seco, suave,

Não importa...

Garrafa de vinho na mão. 

Na mão? Não! Já na boca!

Vozes que ecoam na mente,

Agora, caladas,

Mudas, silenciosas.

Olhos se perdem na escuridão. 

Estilhaços...

Sangue escorrendo nas mãos. 

Foi-se o copo.

Foi-se a taça.

Foi-se o cálice.

Cale-se!

Foi-se, também a garrafa.

Sem vinho,

Sem valsa,

Sem sonhos.

Vanda Felix









sábado, 20 de fevereiro de 2021

Uma história (tão) só nossa...

 



Estendi-lhe a mão, 
Puxaste-me o braço. 
Me perdi em teu abraço 
De aconchego e perdição. 

Fui além...
Além de qualquer montanha
Avistada no firmamento. 
Desbravei teus áridos sertões, 
Movida por fé e convicção, 
Com uma coragem tamanha,
Pela força de um só pensamento:
Sermos unos, 
Singulares,
Únicos...

Era tamanha a obsessão, 
Que te fui à busca,
Incansável, 
Incessante.
Vaguei sob o sol escaldante,
Até desfalecer de cansaço. 

Me abriguei em teu regaço 
E renasci nos beijos teus,
Que te fizeram tão meu
E, deste amor que nasceu,
Uma história (tão) só nossa.
Vanda Felix



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Ida e volta

 Eu usei e abusei

E já não queria mais.

Tentei fazer novos testes,

Trocas,

Retoques,

Reformas.

Mudei o que foi possível, 

O que não era,

Adaptei,

Redesenhei.

O que vi, não gostei.

Tentei descartar,

Mas não pude.

Fui rude,

Fria,

Grosseira,

Indiferente.

Fugi pra bem longe.

Ganhei distância, 

Mirei.

Bateu saudades,

Voltei.

Desafiei os perigos

E os riscos

De incorrer nos mesmos enganos.

Olhei bem de perto,

Toquei,

Senti

Toda a carne tremer...

Deixei os dedos correrem,

Livres,

Sem obstáculos, 

Sem medo.

Me reencontrei

Em mim mesma,

Enfim, 

Me amei.

Retomei minha essência, 

Retornei ao meu "eu".

Defini novos rumos

À minha existência. 

Vivi novos sonhos,

Mil experiências. 

Fui e voltei

Pra onde,

De onde

Não deveria ter saído 

(Nunca!):

De mim mesma!

De corpo e alma

(Lavados),

Peito aberto,

Cara limpa 

Ao sabor do sol e do vento

E o coração agitado,

Braços mais longos, agora,

Querendo abraçar o mundo!

Vanda Felix




http://museuvirtual.belasartes.ulisboa.pt/desenho/detail.php?dl=0&inv=FBAUL/350/DA





segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Leva este mal embora

Leva este mal embora
E traz de volta meus dias
De liberdade e alegrias. 
Deixa longe de nós 
Este mal
Que arrebata a quem amamos
Sem tempo pra despedida.

Leva esta tristeza embora
E nos devolve a liberdade
(Hoje, já,  tão esquecida)
De podermos amar
Uns aos outros, 
Ao próximo
E ao distante,
Com quem não posso estar
Neste instante
E que tanto carece de um abraço meu.

Leva-me fora desta prisão 
Que entristece meu coração 
E me mata, aos poucos,
De saudade e solidão. 

Leva este mal que me assola,
Que o sol 'inda brilha, lá fora,
E preciso contemplá-lo.

Leva embora esta tristeza, 
Preciso sentar-me à mesa
Com meus amigos e irmãos amados
E brindar a vida
Com sorrisos largos
A abraços apertados,
Afagos e apertos de mão. 

Quero reaver minhas amizades,
Meus encontros,  ao final da tarde,
Com segurança, 
Paz 
E serenidade...
Vanda Felix



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Inimigo à espreita

 Não subestimem o inimigo!

Ele segue, à nossa espreita, no aguardo de um descuido, um vacilo,  por mínimo que seja.

Gostamos de foliar,  de curtir o Carnaval, como se cada um fosse o último de nossas vidas? Que legal! Talvez este seja o último,  mesmo, caso não nos resguardemos neste, para podermos  aproveitar, com alegria, os próximos... Gostamos dos bloquinhos,  das matinês nos clubes, dos desfiles na avenida...

Mas, nosso inimigo também gosta e está cheio de energia para nos fazer companhia.  Beber, cair e levantar? Muitos não levantarão  mais, infelizmente.  Muitos voltarão  para suas casas levando consigo o indesejável hóspede do mal, que vai ceifar as vidas de nossos velhinhos, a quem tanto amamos; vai ceifar as vidas de nossos queridos familiares, de saúde já debilitada, que lutam, há anos, pela sobrevivência,  que sabem, como ninguém,  cumprir os protocolos (e os cumprem com rigor).

Talvez você sobreviva a este Carnaval, mas muitos inocentes, que não foliaram,  não sobreviverão.  Serão traídos por um beijo, um abraço,  um espirro incontido. 

Talvez,  nosso próximo Carnaval seja regado a lágrimas de saudades por aqueles a quem não cuidamos. 

O inimigo segue à espreita.  Não sejamos nós  a fornecer-lhe as armas e as munições com as quais irá nos ferir...

Vanda Felix 








quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Meus meninos

 Meu menino se aninha,

manhosamente,

aos meus pés.

Aquece-os.

Ao mesmo tempo 

me aquece o coração,

por sabê-lo bem guardado,

protegido.

Outro menino afaga-me

os cabelos meus.

Embaraça-os,

carinhosamente.

Descanso a mente

e entrego-me a Morfeu,

enquanto o outro(o terceiro)

massageia-me as costas,

como a sovar um pãozinho ...

Quem não gosta

de receber amor gratuito?

Mesmo que de modo fortuito,

afaga a alma,

enleva e acalma

ânimos, por demais exaltados.


Meus meninos,

sempre a meu lado,

sabem-me de cor

e salteado

e são sutis ao demonstrar carinho.


Que seria de mim,

se em meu caminho

não nos houvéssemos encontrado?

Preciosos seres,

fantásticas companhias,

por mim velam,

a mim vigiam

todos os dias.


Para sempre hei de havê-los comigo,

pois a cada um levo,

não em vão,

tatuados na pele,

na memória,

na alma

e no coração.

Vanda Felix





segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Encantamentos de um menino (Colaboração Avram Ascot) 

 

O menino não quer completar anos 

Quer ficar, para sempre, na idade que tem agora. 

Se se fala em festa, ele chora, 

Pois não quer mudar de idade. 

Sabe que vai sentir saudade, 

Dos carinhos da mamãe. 

 O menino quer, para sempre, 

Ter oito anos. 

Dessa fase, traz boas lembranças. 

 Vive, como toda criança, 

 O direito de sonhar e ser feliz 

Sem se expor aos desencantos 

 Que o mundo, lá fora, lhe impõe. 

 Quer resguardar suas brincadeiras 

E os chamegos a que tem direito. 

O menino quer ter oito anos 

 Para sempre 

E eu bem que lhe dou razão... 

Queria, também, voltar aos meus oito anos 

E ser criança, inocente "traveiz"... 

Dormir e acordar sem pensar em boletos, 

Deixar livre minha imaginação. 

Sonhar com os heróis dos quadrinhos, 

Conversar com meus brinquedos 

E meus amigos imaginários 

(Estes amigos nunca traem 

Nem zombam da gente). 

Dou razão ao menino 

 Que não quer completar anos. 

Se eu pudesse, voltaria no tempo 

E viveria, de novo, a infância,  

Mas, sem pressa de crescer. 

Regaria minha inocência 

Com abundantes gotas de esperança 

E não viraria adulta, nunca! 

Nunca deixaria de ter oito anos, 

Como sonha meu menino... 

Já quis ser grande, 

Já quis ser loura, 

Já quis ser outra... 

Por que não ele poder 

Deixar de completar anos? 

Pena não tê-lo menino 

Para sempre... 

A idade vai passar, de qualquer jeito. 

O corpo vai crescer, 

Mas o espírito puro, este, sim, 

Podemos ajudar a preservar. 

Sorriso doce, 

Alma ingênua 

 E, o principal: 

Um amor que nunca morre! 

Pena não ter em mãos 

 A varinha de condão 

 Que realizaria seu desejo. 

Não faria aparecer dinheiro, 

Não te faria famoso, 

Mas te agraciaria 

Com o seu sonho mais íntimo e gostoso: 

 De ser, para sempre, criança, 

Vivendo, em plenitude 

Sua eterna infância...

Vanda Felix

"Haveria mais paz e alegria se os homens voltassem a ser meninos "

Fernando Sabino




sábado, 6 de fevereiro de 2021

Das palavras que nos dizem

    O discurso é lindo! Ideias garimpadas nas profundezas da alma e lapidadas delicadamente para encantar e seduzir. Utopias traduzidas em belas palavras, doces ilusões vendidas, no atacado, para adoçar vidas amargas, embalar almas carentes de afeto e atenção... Dizem-nos o que precisamos ouvir, dão-nos as fantasias que queremos vestir e seguimos cegamente o cortejo, extasiados pela delicadeza e suavidade das mãos que nos conduzem (mãos aveludadas e perfumosas). Sem contestar, sob o efeito hipnótico do texto intencionalmente bem elaborado, do verso metrificado e bem recitado. Néctar em nossas bocas ácidas,  música suave para nossos ouvidos castigados e sensíveis,  miragem à frente de nossos olhos cansados, oásis para o merecido descanso de corpo e alma...

    E, nessa pseudo hipnose coletiva, a que, voluntariamente nos entregamos, nossos pés nos levam, numa marcha cadenciada e quase militar,  em direção ao abismo dos desejos impossíveis,  que jamais hão de se tornar realidade.

Vanda Felix





 

Retomada

 Há tempos não percorria estas páginas... deu até saudade, agora! É que a vida anda tão atribulada, tão conturbada, que meus hábitos mais re...