Engraçado como podemos ser tão fielmente retratados nas palavras de outrem! Hoje queria muito escrever, mas não encontrava as palavras certas, então, resolvi me expressar por meio de um poema que, apesar de não ser de minha autoria, retrata-me com tal profundidade, que chego a me ver refletida nas palavras do autor! Chama-se "Impassível diante do dragão" e é já bem antigo, editado originalmente em 1973, no livro entitulado "Deus negro", de Neimar de Barros. Leiam, vale a pena conhecer-me mais a fundo por meio dele. Para tanto, basta inverter o eu lírico:
Impassível diante do dragão
Há quanto tempo nos conhecemos?
Sei lá!...
Eu vinha, você ia... foi um encontro comum,
casual,
Milhares já se encontraram assim.
Depois eu comecei a sentir algo,
Talvez uma saudade sem razão,
Sei lá!...
Não era tristeza, não era alegria,
era uma indecisão de amar você.
E eu passava momentos olhando para a frente,
Desligado, sem ver nada.
Gozado! Olhava e não via!
Estava absorto, parado, consumido por mim:
Uma verdadeira estátua em introspecção!
Estava "encucado",
"Encucado" com ausência que era presença.
de repente, a interrogação indecisa foi
evaporando,
E eu vi dentro de mim que era amor.
Você estava enquadrada nbo que eu queria,
Desde o sorriso até as lágrimas.
Você era o SIM diante do altar,
Você era a mão certa na escalada incerta,
Você era o horizonte nítido... o agasalho...
Mas eu cometi um erro:
Não perguntei se eu também era
Tudo isso para você.
E a verdade é que não era.
Eu não estava enquadrado no que você queria,
Eu era o NÂO.
Não era o sorriso, não era o agasalho, não era
nada...
Era um ser andante maravilhosamente invisível
para você.
De repente, a exclamação veio em "closed"
E eu fiquei afirmando seus defeitos,
fiquei procurando tudo que você fazia de
errado,
E você não fazia...
Fiquei torcendo pra voc~e me decepcionar.
Afundei-mne como arqueólogo nas ruínas da sua
imagem adorada,
E você permaneceu intacta.
Eu quis desmanchar a ilusão,
Quis vomitar um amor que me assentava bem,
E torci pra você me decepcionar.
Eu queria tanto sentir raiva de você,
Ódio!
No entanto, você se manteve a mesma,
Impassível diante do dragão em que me
transformei.
Então, me decepcionei comigo,
Porque não compensei o que queria
Com o que sentia.
E numa noite, não muito longe,
Resolvi selar a carta da despedida.
Fechei os olhos,
As lágrimas pingaram uma a uma,
E eu adormeci, sonhando o sonho da aceitação!
by Neimar de Barros (1973, O Recado- Editora)
Boa noite a todos!
Vanda Felix