Saga de professora
Parte I
No quesito “invencionice”, o
brasileiro é mesmo insuperável!
Hoje, fui apanhada pela
descoberta de um fonema, até então, oculto na língua lusitana, mais conhecida
como “A última flor do Lácio”, em sua vesão américo-brasiliense, que é o fonema
“fh”. Isso, mesmo: “fh”, que eu, na minha santa ignorância, pretensamente
acadêmica, não atentei à possibilidade de existência.
Explico: uma mãe me liga,
desesperada, porque o nome da filha é grafado com “f” e não com “p”, como eu registrara,
pensando tratar-se de um arcaísmo, devidamente seguido pelo “h”. Como não
concordo, mesmo com essas complicações, agradeci, pela observação e fiz a
correção, pensando, desta forma, estar mais ajustada, a ortografia do referido
nome, às nossas normas linguísticas.
Nova ligação, mais desesperada: “Não é ‘f simplinho, assim’! O nome da
minha filha é com ‘fh’!”
Já não bastassem todas as
confusões com o nome, que já faço, por conta das possibilidades de ser grafado
com ph, f, th, nn, nny, nie, ainda me aparece mais esta!
Por que os pais não registram mais
suas meninas com o belo nome de “Estefânia”, devidamente acentuado, por se
tratar de uma paroxítona terminada em ditongo crescente? Ou por seu correspondente
abrasileirado do inglês, Estéfane, uma bela proparoxítona que nos dá gosto de acentuar
e pronunciar? Só para complicar as vidas dos pobres professores
alfabetizadores, que se verão impossibilitados de recorrer à estratégia de
ensino da leitura e escrita a partir do nome da criança, por não terem como explicar
à pobre criança as formações silábicas de nossa língua a partir do nome de seu
aluno?
Vale a pena esse “diferencial”
todo?
E o pobre do “Wanderceidson”, que
tão bem poderia ser chamado de “Vander filho da Cleide”, com mais sonoridade e
inteligibilidade?
Já estou com medo das próximas
listas de chamadas, com os futuros “Covidson”, “Ifanielson/Ifaniele/Ifaniete”,
as gêmeas “Clora” e “Quina”, e, por aí, vai...
Venha logo, aposentadoria, que
quero lhe usar, antes de ensandecer!
Vanda Felix