Tanto tempo... tanto faz!

Faz tempo que não te vejo,

que minha mente viaja...

Imagino como estejas hoje.

Barbudo? Grisalho, já?

Talvez tua tez 

mais queimada pelo sol...

Mas, tuas mãos, ah, tuas mãos!

Sei que continuam macias.

Teus toques, ainda suaves...

Lembro teus dedos longos,

e quase morro de saudades!

Sabiam como percorrer-me,

explorando-me com suavidade...

Doces lembranças,

lembranças doloridas,

fazem-me chorar,

fazem-me sorrir...

Lembrar é a forma que encontro

para poder te sentir

(por perto, por dentro...).

Teu lugar está preservado,

está reservado,

aqui, do meu lado!

Tanto faz o passar do tempo,

tua morada é aqui dentro!

Vanda Felix

Abstração

Abstraio,
me distraio,
mas não traio
meus desejos
de sentir nos lábios meus
o gosto doce dos teus beijos.

Nas asas do gigante de aço
pouso meu  pensamento
que vai longe, muito longe...

Corta nuvens,
rasga os céus,
atravessa os oceanos.

Tira-me daqui, por instantes,
num lapso de segundo, apenas.
Logo devolve-me à razão,
mas essa abstração
vale a pena.

E nessa fração temporal
voo para perto de ti
e conchego-me nos braços teus
(mesmo que brevemente)
e esqueço-me do teu adeus.

Vanda Felix

Chuva

O temporal chegou.
Desfaz-se em lágrimas
o céu de chumbo.

A natureza chora, copiosa.
Chora por mim.
Chora por ti...
Lamenta nossa incompletude.

Vanda Felix

Faxina

Com a voz embargada
e o peito apertado
desfaço-me de suas lembranças:
rasgo fotos,
queimo cartas,
deleto mensagens,
engulo saudades...
Mas falta-me apertar o botão
em que eu desligue a memória...

Vanda Felix

Objetividade

O que tenho a dizer

eu digo,

nem sempre verbalmente,

mas deixo explícito

nos gestos,

olhares,

entrelinhas.

Não me perco em ladainhas,

minha objetividade é sutil,

cautelosa, 

mas clara!

Leia-me a alma

através dos olhos,

decifra-me através dos atos,

pois já encontro-me entregue,

conquistada por suas palavras.

Vanda Felix

Carência

Mais que sobreviver,
preciso existir
(coisas bem diferentes)...
Preciso voltar a sorrir,
sentir seu corpo quente
a pesar sobre mim.
Ouvir o pulsar descompassado
de seu coração acelerado,
sorver seus lábios úmidos
(ávidos lábios insaciáveis)
que
não se contentam com a boca
e buscam recôncavos ocultos.
Devoram-me toda, em instantes,
fazendo-me, de novo, amante
amada e querida,
mais que viva,
renascida!

Vanda Felix

Didaticamente

Didaticamente, 
dou a letra
(desenhada no ar...),
insinuo,
recito,
soletro,
dramatizo, se preciso.
Faço mímicas,
exagero nos gestos.
Atitudes vãs...
De nada adianta
compor epopeias
para quem não tem o hábito
de ler...

Vanda Felix

Ponte

Vou construir uma ponte
para atravessar o abismo
que há entre nós.

Haverá passagem livre,
sem pedágio ou cancela,
será permitido livre trânsito
de lado a lado,
a qualquer hora do dia.

Irei até você,
sempre que me quiser,
e você virá até mim
na hora em que eu desejar.

Não haverá tempo
ou limite de permanência.
Ficará o quanto queira,
sem controle de frequência.

Vanda Felix

Rosas

Antecipando-se à Primavera,
duas rosas se abriram...
Esplêndidas!!!
Precoces???
Afoitas???
Não!!!
No tempo e na hora certas
para florir meu jardim...
dar novas cores à minha alma... 
encher de luz e brilho meu viver.

Antecipando-se à Primavera,
dissiparam a neve que encobria-me a face,
mandaram para longe
a tristeza que me afligia,
aqueceram meu coração...

Antecipando-me à Primavera,
dou graças aos céus pelo presente 
tão divinal
que Deus me deu,
nesta data tão especial...

Vanda Felix

Para as minhas "Marias" (Juju e Duda) 💓💓💓💓

Falácia

Fala
que faz,
mas foge...
Diz que me quer
e não vem...
Em vão te espero
e me desespero.
Não finjo,
não fujo,
não minto.
Só sinto
solidão e saudade
e uma imensa vontade
de te ter outra vez.

Vanda Felix

Imensurável

Quando você se aproxima,
mando embora a saudade,
meus olhos, de novo, brilham
de pura felicidade.
Mas quando você se afasta,
vem a tristeza infinita,
nada mais tem sentido,
fico, de novo, perdida.
Por você eu sou capaz
de qualquer coisa na vida,
pois meu querer é imenso
e minha paixão desmedida.

Vanda Felix

Vasto mundo

Comércio fechado,
ruas vazias.
À frente, a densa neblina
desta noite fria.
Meu lar é a rua
e não as paredes
que me contém
(ou me detém).
Eu sou do mundo
e o mundo é meu,
mas não é posse,
é pertencimento.
Sob o testemunho da Lua
e da chuva fina,
que teima em cair sobre mim,
faço minha escolha:
"Na minha casa
ou na sua?"
Tudo posso,
quando quero
e hoje quero
sua companhia.
Cai a noite,
adentra o dia.
Vou ficando por aqui,
até que venha a necessidade
de tornar a partir
deste vasto mundo
que é você,
do qual desejo
nunca mais sair.

Vanda Felix

Ao vento

Então um zéfiro traquina
(menino inconsequente!)
esvoaça a cabeleira dos incautos,
desfaz as tranças da menina.
Cria percalços,
produz embaraços,
desfolha árvores,
destelha casas...

Zéfiro danado,
por que não traz meu amado?
Contar-lhe-ei meu segredo:
de seus arroubos não tenho medo!
Caminho ao sabor do vento
que me indica a direção
de onde está meu coração
(para além do firmamento)...

Vanda Felix

Perigo

Quem lhe deu permissão
para roubar o meu sono
e invadir o meu sonho?
Seja sincero e me diga
por que me persegue
por dias e noites,
me dando esperança
ou criando ilusão?
Bem sei eu
que não sou mais criança,
mas a sua lembrança
mexe (ainda) comigo,
representa perigo
ao meu ingênuo coração...

Vanda Felix

Desejo antigo

Pouco te importaste,
em nada te importas
que eu te deixe aberta a porta
pela qual possas entrar,
tomar um café comigo,
ficar de papo pro ar...
provocar o meu sorriso
e, num abraço generoso,
aconchegar-me em seu peito
(largo, peito musculoso),
fazer de ti meu abrigo
(meu desejo mais antigo)...

Vanda Felix

Tão pouco

Folhas secas
correm ao sabor do vento
bailando à minha frente.
O dia hoje
se fez diferente,
lembraste-te de mim
num breve momento...
Por isso bailam as folhas,
sob o sol que irradia
calor e energia.
Por tão pouco me alegro,
um "oi" ou um "bom dia";
dispara no peito
o coração satisfeito
de quem, há muito, te espera,
do austero e sóbrio inverno,
à gentil e insana primavera...

Vanda Felix

Refúgio

Já não sei quem é você,
vivo ausente de mim mesma, 
alheia à crueldade do mundo...
Também não sei mais quem sou
e não mais interessa sabê-lo,
mudo ao sabor dos ventos
que esvoaçam meus cabelos.
Miro-me no espelho dos teus olhos,
sacio a sede em tua boca,
repouso em tua pele macia
e teu cheiro me deixa louca...
Não quero voltar à razão,
pois meu universo (contigo) é pleno,
nele, só eu e você,
o luar, o orvalho, o sereno...
A paz do meu coração
reside nessa ousadia
de fingir que tu és meu
e, trazer-me à realidade
é ato de covardia!!!

Vanda Felix

Perdas e danos

O que era

já deixou de sê-lo;

hoje, já não é mais nada!

Foi, por um tempo

(bom tempo, até!)

mas perdeu-se no espaço,

no breve ínterim de um lapso...

Uma vírgula, a mais ou a menos,

muda toda uma história!

O que foi, já não é,

e nunca mais será.

Perder é tão fácil

e tão dolorido!

Apartar-se do que seja querido,

mesmo que, amanhã, já esquecido,

faz hoje arder no peito

a ausência infame

e, mesmo que eu reclame,

não há volta,

não há jeito...

Vanda Felix

Cuidados

Gosto de pensar
que precisas de cuidados
(meus cuidados!)...
Ler tuas ambições,
teus anseios,
teus desejos
me dão vontade de te por no colo,
afagar teus cabelos,
segurar tua mão
e te proteger do mundo,
como se eu fosse grande
o suficiente para isso...
Vontade de te por no colo
e contemplar teu semblante lindo,
ouvir tuas ideias,
ver teu rosto iluminar
num largo e belo sorriso...
Mas sou tão pequena
que teu olhar não me enxerga,
minhas mãos não te alcançam
e ficas sem meus cuidados,
sem os carinhos e afagos
que reservo para ti!
Vanda Felix

Rotina

Manhã...
Céu nebuloso
Densa neblina
Brisa gelada.

Tarde...
É angústia que oprime
É desejo que arde
No coração da menina.

Noite...
Faltam estrelas
Sobram saudades
Na alma ferida
Da mulher não amada.

Vanda Felix

My little John

Com ele por perto 

é diversão e alegria!

Amo, mais que chocolate,

meu prazer é sua companhia...

Mas, depois que ele se vai,

resta uma casa vazia... 

Vanda Felix