quinta-feira, 21 de março de 2019
A Poesia e o Sol
A
Minha poesia
Desperta com o Sol.
Aos primeiros raios deste
Abre suas asas para o Universo,
Gritando seus versos e reversos
A quem os queira escutar.
Mas, com este não se põe,
Recusa-se a descansar,
Agita o cochilo
E o sono profundo, traz, em sonhos,
Para o mundo,
Ritmos, cadências e acalantos.
Se o Sol, o corpo aquece,
A poesia,
Que, ora alegra,
Ora entristece,
Afaga a alma,
Aquieta o coração.
Envolve o mundo
Numa aura de encantos,
Que,
Sem quê,
Nem porquê
Esquece-se de defender sua razão.
Vanda Felix
21 de Março
Dia da Poesia.
sexta-feira, 15 de março de 2019
Sobre corpo e alma
Engraçado, como o preconceito nasce, se cria e assume dimensões, por vezes, titânicas, dentro de uma realidade ilusória, numa visão equivocada e focada em escárnio e maledicências... Engraçado, não! Triste e desolador...
Por vezes, mero fruto de ignorância, de desconhecimento. Em outras, exercício tirânico e aprimoramento da maldade, que, deliberadamente, fere, corta a carne a sangue frio, fazendo sangrar, não o corpo, mas a alma. Às vezes, o sangramento da alma é mais doído...
No primeiro pressuposto, cabe a informação correta, o diálogo aberto e paciente, cabe a Educação. No segundo, a depender de sua crença, preces pela redenção dessa alma, que, decerto, desconhece a luz, a beleza e o perfume da empatia, da compaixão e do amor ao próximo. Essas almas são, de fato, as mais miseráveis... Rogo por elas! Rogo, não a desejar o sofrimento, na própria carne do mal que disseminam, sentindo na pele a dor que, em outrem, provocam, mas o clareamento de seu olhar, sob a luz dos bons sentimentos, que, certamente, em si existem, mas que, muitas vezes, são abafados pela mágoa, o rancor e a inveja, ou, simplesmente, pela ausência de bom senso e empatia.
Bons sentimentos nascem em todos nós, mas, somente se desenvolvem e florescem se forem cuidados, adubados desde cedo.
Não posso sentir na pele a dor do outro, mas posso lhe ser solidária e empática, estabelecendo afinidade e buscando o exercício da compreensão, do amor e do respeito, a despeito das convenções de cunho social, modal, religioso, alinhando minhas energias e expectativas com as do meu próximo que, apesar das diferenças, ou melhor, das particularidades físicas, divergências ideológicas, diversidade cultural, sexual ou religiosa, me é, a revelia de meu agrado, semelhante quanto à condição humana!
Humanos nascemos, humanos sejamos até a morte! ( E que essa morte nos venha de forma natural, como o fechamento do ciclo vital)
Que nossos corpos e mentes sejam humanos, conquanto que nossas almas sejam etéreas!!!
Mesmo que não creia no Paraíso, que eu viva minha breve existência a fazer por merecê-lo!!!
Vanda Felix
quarta-feira, 13 de março de 2019
Do nada ao nada...
O grito silencioso
Da minha alma
Sangrenta
É apenas audível
Aos corações sensíveis.
Na cadência
Das lágrimas
(Mudas)
Meus olhos
Marejados
Falam ao mundo.
O corpo imóvel
Se agita
E grita
De dor e de frio.
Está oco, vazio...
Preciso de alento,
Apoio,
Consolo.
Nem sei se estou viva,
Ou parti deste mundo...
O corpo cá está,
Mas a alma
(Esta, perdida)
A vagar pela vida
Sem eira, nem rumo.
E o coração que fala,
Se humilha
E implora
Migalhas de afeto,
Carinho e atenção
Que não me alimentam.
Não sei mais quem sou,
Não sei quem eu fui.
Sem força ou coragem
Não quero ser nada.
Encerrei a hornada
Que a vida me impôs.
Do nada, ao nada,
Regresso, sem medo.
Não tenho segredos
Nem ambições.
Passei pela vida,
Mas não
Sem tê-la vivido.
Servi para nada?
Não quero crer nisso...
Cumpri minha jornada,
Honrei meu compromisso.
Ninguém passa incólume
(Por menos que faça)
Sem ter contribuído.
Vanda Felix
terça-feira, 12 de março de 2019
Marcas & Marcos
O anúncio da vida,
O prenúncio da morte
São marcos,
São marcas
De nosso breve existir.
Um, alegria infinita,
Outro, dor desmedida.
Começo e fim
De nós, que somos finitos.
E no meio, o que fazemos?
Realmente vivemos
Ou passamos pela vida?
Quais marcas deixamos?
Mais risos ou lágrimas?
As rugas na testa,
Os calos, nas mãos,
O olhar, no horizonte perdido,
Um beijo roubado,
O abraço apertado,
A saudade, que dói...
São marcas e marcos,
Divisores de águas
Entre o presente e o passado.
Virtude ou pecado?
É a vida que segue,
Até onde se encerra,
Na paz ou na guerra.
Futuro? Não há!
Não, nessa Terra...
Vanda Felix
segunda-feira, 4 de março de 2019
Sonhos felinos
Cansaço físico e mental... Inquieta mente, que não favorece ao repouso, mas, enfim, por fim, cumpre-me sucumbir (sob protestos desta mesma mente, já doente e desgastada) à malemolência do corpo e entregar-me ao aconchego dos braços amorosos de um Morpheu, também adormecido, talvez inebriado de seus próprios encantos...
De súbito, um despertar alucinado, paranóico, sem sentido ou razão de sê-lo: sobre o mesmo leito em que jaz meu corpo cansado, uma CPU antiga, horizontalmente disposta ao lado de um monitor (que, creio, me monitore), em cuja tela luzia uma frequência cardíaca baixíssima, quase que linha reta. Por sobre a negritude da CPU combalida, um gato, também negro, ressonava o sono dos inocentes... Ruídos, arranhões e chiados: as "vozes" alteradas dos ratos, em assembleia, a decidir democraticamente o momento oportuno e exato a deixar o auto-imposto cárcere. Um a um, camundongos mínimos, luzídios e azeviches deixam o interior da máquina que os abriga, perfilando-se sobre a mesma, ao lado do felino ressonante. Na sequência, um séquito de formigas, também negras, deixa o mesmo abrigo, até então partilhado e soma-se ao exército de roedores, encarando-me, desafiadoramente...
A frequência dos batimentos, que o velho monitor registra, cai a zero e a linha reta, exibida na tela, denota minha passagem a outra esfera.
Enquanto isso, meu gato guardião segue ressonando o sono dos justos, o sono dos puros, talvez absorto em seus próprios sonhos felinos.
Vanda Felix
sexta-feira, 1 de março de 2019
Enchente
Muita água,
Pela frente,
Transbordando,
Entornando,
Sem vazão,
( Não sem razão)
O rio enche,
O lago alaga,
O córrego,
Plácido e inocente,
Tomado de fúria,
Transborda e mata.
Mar de lama,
Mar de gente,
Invadindo o continente.
A água que vem do céu,
Necessária e esperada,
Vem com fúria,
Vem magoada,
Destruindo o que encontra:
Seu carrinho, 🚗
A custo, financiado;
A loja, em que trabalhas;
A rua, por onde passas
E até mesmo, quem diria?
Tua casa, tua morada...
A água, que mata a sede
É a mesma, que te mata...
Então, cuida-te
E dela cuide!
Ela devolve o que tu dás!
O lixo, que descartas,
Teu esgoto,
Tuas descargas.
(Ela não fica com nada,
Do qual não se sinta dona...).
Enxurrada,
Enchente,
Alagamento,
Nada mais é, que lei do retorno.
É a Natureza devolvendo,
Tudo o que não lhe pertence
A quem esteja no entorno.
Vanda Felix
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