quarta-feira, 23 de janeiro de 2019
Autodefinição
Minha forma é muito livre,
Minha alma é muito leve,
Mas minha dose,
(Ah, essa!)
É muito intensa,
Pesada.
Não meço,
Não enquadro,
Não sigo modelos.
Não doso,
Nem adequo escalas.
Expresso o que sinto,
Manifesto o que penso
Por meio de gestos,
Atitudes, palavras.
Deixo claro o que quero,
Como quero,
Quando quero...
Se não quero, não escondo.
Exponho meus desagrados
E sei que nem sempre agrado.
Declaro meus medos,
Revelo meus segredos,
Guardá--los, pra quê?
Sou limpa,
Sou livre,
Não sei me esconder.
Se me aceitas,
Te aceito,
Se, não...
Não me importo!
Não sou rês carimbada,
Não sou carta marcada,
Nasci desse jeito
E assim vou morrer!
Vanda Felix
domingo, 20 de janeiro de 2019
Marina
Na pele,
Nos pelos,
Nas unhas,
Cabelos
E ossos...
Meus olhos
Te olham,
Te reviram
Do avesso.
Teu toque
Me toca
Além do corpo,
Na alma...
Toda manhã
Eu me perco,
E toda noite
Me acho
Em teus braços
E beijos.
Me cuidas,
Te cuido,
Te amo
E desnudo
Teu universo
Obscuro,
Sou teu porto seguro,
Sua menina,
Marina.
E és meu cais,
Ancoradouro
De onde meu frágil
Barquinho,
Que não carrega
Tesouros,
Não quer zarpar jamais...
Vanda Felix
terça-feira, 8 de janeiro de 2019
Dialógica do tempo
Tempo, tempo...
Passa, passa três ou quatro vezes
A alimentar todos os desesperos,
Desejos
E encantamentos.
Hoje, sem contratempos,
Amanhã? Quem o saberá?
Tempo bom
É o que corre lento,
Com o barco a favor do vento,
Deixando livres
Todos os meus sonhos,
Todos os meus pensamentos.
Tempo de ir,
Tempo de vir.
Hora lá,
Hora aqui.
Liberdade de sorrir
De coisas bobas,
De coisas boas,
De coisas sérias...
Tempo de espera,
Na porta de entrada
Ou na janela.
A nutrir de esperança
A velha,
A moça
E a criança...
Tudo vem em seu tempo certo,
Tanto risos, quanto lágrimas,
E vai, quando tem que ir.
Não pede para partir,
E nem sempre se despede.
Cura dores,
Traz novos amores.
O tempo, que tudo colore
Também acinzenta o mundo.
Céu azul
Ou negras nuvens?
Vai...
Se esvai...
Escorrega por entre os dedos,
Qual areia da ampulheta
( E não adianta invertê-la)...
Escorre, grão a grão,
A despeito da dor,
A despeito da opressão
Tão forte em nosso coração...
O tempo vai e não volta mais.
Não olha o que deixou para trás.
Passa, sem pressa,
Mas passa.
E nem sempre nos leva junto.
Passa pela viela,
Pela avenida,
Pela alameda...
Passa mesmo pela fresta...
Deixa marcas em minha testa
E nos cantos dos olhos
E da boca.
Mas a mais profunda,
Sangrenta
E dolorida
É a ferida
Que deixa no coração.
Tempo-clima,
Tempo-relógio.
Já escrevi
Meu necrológio,
Mas não vou ficar parada,
Esperando, sem fazer nada,
Em qualquer beira de estrada
A minha hora chegar.
Sou mulher de atitude,
E mesmo que nada mude,
Eu necessito tentar.
Vanda Felix
sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
Sete filhos de Maria
Sete cores do arco-íris,
Sete dias da semana,
As sete maravilhas do mundo,
Sete filhos de Maria,
Sete dores,
Sete alegrias...
Sete filhos de Maria,
Seis meninas,
Um menino.
Sete histórias,
Sete destinos.
Dores e amores
Elevados à sétima potência.
Muito amor
E sofrimento,
Misturas de sentimentos,
Que fazem parte
Da existência.
Maria,
Vivendo seu dia a dia,
Trabalhando com afinco,
Sem descanso,
Foi moldando,
Como barro,
Cada qual com muito esmero,
Com cuidado,
Em exagero,
Buscando a perfeição da obra.
Sete vidas,
Com dificuldades vividas,
Todas elas mantidas
À custa de disciplina e trabalho.
Uma só Maria,
Multiplicada por sete,
Cada qual em seu caminho,
Uns de asfalto,
Outros, pedregulhos,
Mas em todos a persistência,
A luta pela sobrevivência
Ensinada por Maria
E aprendida com obediência.
Minha Maria é única,
Mas,
Quantas Marias há neste mundo?
Setenta?
Setecentas?
Sete mil?
Cada qual com sua singularidade,
Construindo com dignidade
Cada estrada,
Cada morada,
Cada parede deste Brasil.
Vanda Felix
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