terça-feira, 20 de março de 2012

A chegada de meu bebê caçula...

          Acordei com disposição pra viver intensamente aquela manhã! Muito disposta, entrei logo cedo num demorado banho, capaz de me devolver o frescor de uma juventude já quase esquecida, tomei um café caprichado, dessa vez preparado sem pressa e coloquei todos os meus afazeres domésticos e profissionais em dia. Depois, entreguei-me ao prazer do ócio... Ah, como foi bom descansar sem pressa e sem culpa! Já quase adormecida, ouvi o estrondo da campainha tocando e saltei de um pulo, com o coração quase a sair pela boca... Fui até a porta e espreitei pelo olho mágico, mas nao consegui uma identificação clara de quem me despertara. Abri a porta e dei de cara com um grupo de uns cinco garotos, um deles com um violão e outro trazendo nos braços uma filhotinha de gato, pretinha, retinta como uma noite sem luar, perguntando-me se não queria ficar com ela. Meu coração palpitou, mas tomada pela razão, recusei a oferta, uma vez que já tinha em minha companhia dois lindos felinos que me ocupavam quase todo o espaço da casa, bem como o tempo livre.
          Eles se foram e voltei-me ao meu merecido repouso, agora não tão sem culpa como no início, porque trazia na mente aquela imagem daquele pequeno ser indefeso, abandonado à própria sorte, a quem eu tinha negado abrigo.
          O dia passou e a noite chegou, sem que eu conseguisse apagar da memória aquela cena do final da manhã. Recebi em casa a visita de uma de minhas irmãs, a Valéria, com seus filhos Ana Carolina e Caio e seu marido Robson, sem que eu tocasse no assunto que me apertava o peito.
          Pedimos uma pizza e quando o motoboy chegou, desci para receber a encomenda e, ao retornar da portaria, com meu pedido em mão, eis que um vulto preto e esguio me acompanha até a porta de acesso ao hall, de onde fica a me observar com seus olhos penetrantes e carentes, como quem diz: "Me leva com você?"...
Laura
          Não resisti, voltei-me novamente, abri a porta e tomei a pequena criatura nas mãos, trazendo-a para a intimidade do meu lar, onde, de encontro aos dois moradores mais antigos, não foi de pronto bem recebida. Olhando-a com desconfiança, manifestando ciúmes, relutância e extremo mau humor, meus dois convíveres viram-se obrigados a partilhar com esse pequeno ser estranho tudo o que lhes cabia por direito: água, comida, abrigo e, principalmente minha atenção. De início, nada fácil, mas aos poucos, a pequena Laura foi fazendo com que a sisudez de ambos se dissipasse e hoje, em seu quarto dia entre nós, já é nossa velha companheira de infância, caminhando toda faceira por todas as partes da casa, totalmente senhora de sua situação... Linda, minha pretinha!
          Tom, o mais sério dos irmãos, foi quem primeiro se rendeu aos seus encantos, cobrindo-a de proteção, até já lhe permite dormir ao seu lado. Jobim, que sempre foi o mais faceiro e carinhoso, resiste ainda um pouco, mas não lhe causa mal. Apenas a olha com a desconfiança e o ciúme naturais aos irmãos mais velhos em relação aos mais novos...

 Tom e Jobim
Vanda Felix

sábado, 17 de março de 2012

Dualidades

          Como tenho dificuldades em administar o que sinto! A dualidade de sentimentos me deixa confusa, insegura, não consigo avançar... Fascinação e medo, desejo e culpa me perseguem o tempo todo, povoam minha mente e meu coração. Preciso amadurecer, definir metas mais objetivas e realizáveis, mas sei que não é essa minha natureza! Sempre serei uma sonhadora inveterada, alienada do mundo real, mas sem projeções de longo alcance, embora pacientemente espere pelo impossível, mesmo que  haja urgência em viver cada minuto, cada oportunidade... "Sou Alice fugitiva, num País de Maravilhas...(Debora Blando)"! Como me identifico com esta definição!
           Dialógica? Ambígua? Confusa?... Ou simplesmente utópica? 
          Não sei o que sou, talvez nem saiba mais quem sou... se é que em algum momento de minha vida eu tenha de fato sabido!

"O mundo acaba hoje, eu estarei dançando... (...)
Por isso eu me entrego a um imediatismo cego, pronta pro mundo acabar..." 
Pitty


by Vanda Felix

domingo, 11 de março de 2012

"Mas é claro que o Sol vai voltar amanhã...!" (Renato Russo)

          Hoje é um daqueles dias em que a gente se sente vazia por dentro, sabe? Um vazio que não se sabe como preencher, como se alguém ou algo estivesse a nos cavoucar o coração e por ele retirasse aos poucos nossa essência... Em dias como esse nada é suficiente para nos aprazer, nada é capaz de nos alegrar e sentimos vontade de sermos avestruzes e fugir dos problemas de nossas vidas enfiando a cabeça num buraco... Porém, sabemos que isso de nada resolveria, pois ao levantar a cabeça, seja pra respirar, seja pela curiosidade de ver se algo mudou por causa disso, haveremos de nos deparar novamente com nossos medos prontos pra nos devorar, nos sugar feito vampiros...
          Fato é que o mundo não deixa sequer de dar uma volta por causa dos nossos conflitos internos. Somos ínfimos grãos de areia imperceptíveis neste vasto Universo e desistir de nós mesmos em nada vai alterar a ordem natural das coisas... A vida prossegue e a História da Humanidade constrói-se a cada dia, independente de nossas vontades ou de nossos desânimos e as coisas se ajustam à nossa revelia. Tédio castiga, mas não mata, amor frustrado traz ofrimento, mas a gente segue sobrevivendo e se não há como subverter essa ordem, cumpre-nos resignarmos ao cumprimento de nossa missão, atirando para longe essa angústia que oprime o peito e a alma e buscando caminhos alternativos que nos levem ao reino da alegria e do prazer... porque independentemente de acordarmos ou não amanhã, com seja lá qual for nosso estado de espírito, o Sol sempre voltará a brilhar, mesmo que encoberto por pesadas nuvens, há certeza de que ele não furta-se ao seu papel de Astro-rei e segue soberano sua jornada de emitir brilho e calor a esta Terra dominada pela ingratidão e covardia humanas...

Vanda Felix
         

quinta-feira, 8 de março de 2012

Um brinde muuuito especial!!!!!!

          Um brinde muito especial à vida que nos concedeu o direito de nascer mulheres! Um brinde a nós mesmas, que ousamos preservar a delicadeza das rosas neste mundo árido e cheio de espinhos... Um brinde àquela que nos deu a vida e nos inspirou como exemplo de afeto, amor, dedicação e dignidade, cobrando-nos apenas a obrigação de sermos felizes...
          Hoje é "Dia internacional da Mulher" e eu não poderia furtar-me ao direito de expressar o orgulho que sinto por ser quem eu sou, criatura imperfeita que se constrói dia a dia, com base nos exemplos maravilhosos que a vida pôs à minha disposição: minha avó, minha mãe, minhas irmãs, sobrinhas, e, especialmente, minhas amigas, verdadeiras "irmãs escolhidas por mim", pessoas especiais e iluminadas que seguem comigo lado a lado, às vezes à distância mesmo e que me emprestam seus sentidos quando deles necesito: emprestam-me sua audição, quando necesito falar e ser ouvida, sua fala, quando necessito ser aconselhada ou mesmo repreendida, emprestam-me seus olhos, para que eu possa enxergar sob diferentes pontos de vista...  ajudam-me a descobrir-me todos os dias, fazendo brotar novos sorrisos quando tudo o que desejo é chorar, mas que também me permitem o pranto, quando este é impossível de conter...
Amo a cada uma de modo especial e único, porque cada uma de vocês é única pra mim!
          Muito do que hoje sou devo às intervenções de cada uma de vocês, cada uma do seu jeito e a seu tempo, no decorrer da minha vida!
          Por isso, mais uma vez proponho um brinde A TODAS NÓS, MULHERES, que ousamos sobreviver todos os dias às adversidades que o mundo nos impõe, e que vibra a cada vitória, mas ergue-se a cada derrota e se põe disposta a recomeçar do zero... Somos quem somos porque somos humanas, somos quem somos porque somos MULHERES!!!!
Vanda Felix

segunda-feira, 5 de março de 2012

Faço minhas, as palavras de outrem...

Engraçado como podemos ser tão fielmente retratados nas palavras de outrem! Hoje queria muito escrever, mas não encontrava as palavras certas, então, resolvi me expressar por meio de um poema que, apesar de não ser de minha autoria, retrata-me com tal profundidade, que chego a me ver refletida nas palavras do autor! Chama-se "Impassível diante do dragão" e é já bem antigo, editado originalmente em 1973, no livro entitulado "Deus negro", de Neimar de Barros. Leiam, vale a pena conhecer-me mais a fundo por meio dele. Para tanto, basta inverter o eu lírico:

Impassível diante do dragão

Há quanto tempo nos conhecemos?
Sei lá!...
Eu vinha, você ia... foi um encontro comum,
          casual,
Milhares já se encontraram assim.
Depois eu comecei a sentir algo,
Talvez uma saudade sem razão,
Sei lá!...
Não era tristeza, não era alegria,
era uma indecisão de amar você.
E eu passava momentos olhando para a frente,
Desligado, sem ver nada.
Gozado! Olhava e não via!
Estava absorto, parado, consumido por mim:
Uma verdadeira estátua em introspecção!
Estava "encucado",
"Encucado" com ausência que era presença.
de repente, a interrogação indecisa foi
         evaporando,
E eu vi dentro de mim que era amor.
Você estava enquadrada nbo que eu queria,
Desde o sorriso até as lágrimas.
Você era o SIM diante do altar,
Você era a mão certa na escalada incerta,
Você era o horizonte nítido... o agasalho...
Mas eu cometi um erro:
Não perguntei se eu também era
Tudo isso para você.
E a verdade é que não era.
Eu não estava enquadrado no que você queria,
Eu era o NÂO.
Não era o sorriso, não era o agasalho, não era
         nada...
Era um ser andante maravilhosamente invisível
         para você.
De repente, a exclamação veio em "closed"
E eu fiquei afirmando seus defeitos,
fiquei procurando tudo que você fazia de 
         errado,
E você não fazia...
Fiquei torcendo pra voc~e me decepcionar.
Afundei-mne como arqueólogo nas ruínas da sua
         imagem adorada,
E você permaneceu intacta.
Eu quis desmanchar a ilusão,
Quis vomitar um amor que me assentava bem,
E torci pra você me decepcionar.
Eu queria tanto sentir raiva de você,
Ódio!
No entanto, você se manteve a mesma,
Impassível diante do dragão em que me
         transformei.
Então, me decepcionei comigo,
Porque não compensei o que queria
Com o que sentia.
E numa noite, não muito longe,
Resolvi selar a carta da despedida.
Fechei os olhos,
As lágrimas pingaram uma a uma,
E eu adormeci, sonhando o sonho da aceitação!
 by Neimar de Barros (1973, O Recado- Editora)

Boa noite a todos!
Vanda Felix
  

sábado, 3 de março de 2012

Lágrimas e risos

Num encontro com amigas esta semana, rememoramos algumas passagens de uma época difícil em que trabalhamos juntas, sob condiçoes extremamente adversas e que nos causou grandes sofrimentos e indagações quanto a incerteza de nossos futuros... Foi um período conturbado em que tivemos que exercer nossos papéis em situações que nos colocavam em choque com nossos ideais e com aquilo que críamos ser o fim da linha de nossas ambições. Subjugadas a instituições que nada tinham a ver com nossas visões e aspirações político-educacionais, sentíamo-nos impotentes e fracassadas.
Hoje, porém, decorrida mais de uma década, estamos juntas novamente, mas a situação é outra e aquele momento de nossas vidas, tão sofrido e amargo, desta vez era motivo de risos! A cada narrativa que nos saía da boca, comentários hilários eram feitos e ríamos a cântaros, porque a comicidade dos fatos somente agora se nos apresentava, pois, quando dos ocorridos, nossos estados emocionais não nos permitiam aperceber o quão satíricos eram... talvez se nossas ansiedades e temores não estivessem tão presentes, poderíamos ter tirado proveito e nos divertido muito com a sátira de nosso dia a dia, então...
De qualquer modo, pelo amor ou pela dor, aprendemos muito, e as dores que sofremos então, foi o que nos tornou mais fortes e, hoje mais maduras e confiantes! Mesmo aquela fase sendo sombria, valeu-nos enquanto aprendizado e hoje, doze anos depois, sempre que nos reunimos, serve de pauta para nossas reuniões, regadas a trocadilhos, piadas e muito, muito riso! Talvez se não tivéssemos passado pelo que passamos juntas, não teríamos tanto assunto hoje, não é Cátia e Meire??? Outras pessoas ficaram-nos na lembrança e são inesquecíveis pela mesma razão... Sei que nossas escolhas foram sensatas e que determinaram o rumo de nossas histórias... e haja histórias para compartilharmos, hein? Para nós que vivenciamos tais ocorridos, ficam as lembranças, para meus queridos leitores que agora se perguntam: "A que ela está se referindo?", rogo que usem suas imaginações e que não lhes imponham limites... Vale muito a pena divagar de vez em quando...
Beijos a todos.
Vanda Felix

Retomada

 Há tempos não percorria estas páginas... deu até saudade, agora! É que a vida anda tão atribulada, tão conturbada, que meus hábitos mais re...