quinta-feira, 23 de abril de 2015

Por que não posso lhe esquecer , por Fabrício Carpinejar

PORQUE NÃO POSSO LHE ESQUECER
(Por Fabrício Carpinejar)


Nenhuma perda é rasa para mim. Todas são profundas. A lembrança da antiga companhia leva, inclusive, o meu modo de olhar. Meu modo poético de olhar o mundo.

Esquecer é uma crueldade que sou inapto para praticar. Absolutamente incompetente.

Não sei me despedir, não sei me desapegar.

Há mentalidades diferentes - e apenas diferentes, nem melhores, nem piores -, unidimensionais no relacionamento, em que um vaso é um vaso, uma vassoura é uma vassoura, objetos geram funções e não significados emocionais.

Estes perfis pouco sentimentais e práticos se separam fácil. Não sofrem com a linguagem criada no amor, não adoecem no dialeto. Felicidade é estar rindo, tristeza é estar chorando, sono é bocejar, raiva é gritar. E se separar é apenas não dar certo.

Não corresponde ao meu exemplo. A simplicidade é reverência. Sofro com o que vi em segredo, com o que memorizei sem nenhum sentido a não ser o de amar alguém.

Potencializo a observação como forma de conhecer o outro. Minha memória é feita toda de saudade. A falta vem de uma realidade microscópica e lírica guardada nos hábitos. Minha memória está repleta de símbolos criados ao longo da convivência. Dentro da felicidade, da tristeza, do sono e da raiva, existem ninharias importantíssimas, que não me deixam ir embora.

Os sentimentos não expressam conceitos que servem para qualquer história. Terminam particularizados ao máximo para tornar aquela história única e irreversível.

Não observarei mais um pão francês impunemente, pois ela tirava o miolo antes de comer. Não sentarei no banco preto da cozinha do mesmo jeito, mirante onde se debruçava para ouvir música e fumar perto da janela. Os chinelos não são mais chinelos, mas um encosto para a porta não bater com o vento. A carteira não é o lugar em que guardo cartões e dinheiro, mas onde conservo o nosso primeiro ingresso de cinema. Arrumar a cama é lembrar que ela não gostava de ficar com os pés sufocados, é nunca mais prender o lençol no colchão. Pegar uma escova é segurar o ensinamento entre os dedos de que uma mulher prefere o carinho na nuca do que na raiz dos cabelos.

Eu me doutorei numa pessoa. Eu me diplomei na coreografia mínima de minha amada. Durante anos, o que fiz foi estudá-la. Eu me especializei, ironicamente, em quem não está mais comigo.

Onde pôr a herança? Não há como aproveitar a escolaridade ou realizar equivalência de cadeiras com uma nova paixão.

Não tem como apagar o conhecimento com a distância repentina. Ela já é parte de mim. Ela já se misturou ao meu temperamento.

A poesia é um problema para quem se afasta daquela que ama.

Glorifiquei informações inúteis, consagrei conhecimentos irrelevantes. Tudo era essencial para desfrutar com ênfase de sua presença.

Decorava seus gestos, mesmo não sendo necessário.

Se não ponho nada fora, não é porque não quero, é porque não posso. Teria que me arrancar os olhos.

oglobo.globo.com


Gosto de ler o que Fabrício escreve, pois me identifico com ele. Ele explica muito de mim.
Vanda Felix

terça-feira, 21 de abril de 2015

Bipolares



Grande
Forte
Bruta

Também
Pequena
Fraca
Delicada...

Quantas pessoas 
cabem numa pessoa?
Quantas pessoas 
cabem em mim?

Quantas tu quiseres...
Quantas imaginares...
Transformo-me
para transformar-te,
para agradar-te
e fazer-te feliz...

Transmuto-me
em teus desejos,
em teus caprichos,
em teus sonhares...

Faço-me tua
para que sejas meu!
Satisfazendo-te
acaricio meu ego,
por isso me entrego,
para, em realidade,
receber-te!

Vanda Felix


domingo, 5 de abril de 2015

Meus sonhos




Não era necessário chamar
para que me desses o carinho
de que precisava,
sempre no momento exato!...
Para que aconchegasses meu corpo
e acolhesses minha alma...
Foste capaz de entender- me,
sem que eu proferisse palavras...
Sabias ler-me os olhos;
ouvir-me as lamúrias do coração,
compreender meu silêncio.
Fizeste-me feliz um dia!
Por isso, ainda recordo-te
(com ternura e desejo),
ainda sinto saudades...
Fizeste-me feliz um dia?
Não!!!
Ainda me fazes todas as noites,
quando me visitas em sonho,
dos quais não queria acordar...
Vanda Felix
 
 


Retomada

 Há tempos não percorria estas páginas... deu até saudade, agora! É que a vida anda tão atribulada, tão conturbada, que meus hábitos mais re...