segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Busca

 Busco desviar maus pensamentos, 

Fico procurando coisas

Pra passar o tempo.

Tenho medo de que ele pare, 

Tenho medo de que ele siga...

Seguro seria

Voltar ao passado,

Aos momentos sem dor,

Momentos de alegria.

Mas, não há volta.

 Cada passo dado é um a menos a se dar.

Hoje me dói pensar no amanhã, 

Sem saber se ele chegará 

Ou se a ele chegaremos.

Como chegaremos?

Certo é que seremos outros,

Amadurecidos e calejados 

Pela dor e pelo intenso amor

Que vivemos, 

Que alimentamos, 

Que deixamos ir embora...

Mas que fez de nós quem somos,

Lapidados, aprimorados,

Cicatrizados em extensas feridas.

Eis ao que se resume

Este imenso mistério 

A que chamamos

Vida!

Vida cheia de histórias, 

Com pouca

Ou nenhuma glória, 

Vida de rima rica,

Vida de vidas pobres,

Sem cadência, 

Sem acordes.

Acorde logo pra Vida,

Você que está de cochilo,

Antes que caia o cachimbo

E lhe deixe a boca torta...

Vanda Felix




quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Último segundo

No último segundo 

Do último instante 

 Do último momento 

Bateu forte o desejo 

De voltar ao começo. 

 Ressuscitar esperanças, 

 Sonhos e projetos 

 Então, tão possíveis 

 De se tornarem concretos. 

Havia tempo, 

Havia vontade, 

Havia motivos. 



No último segundo 

Do último instante 

Do último momento 

Bateu em mim o medo 

De cerrar atrás de mim a porta, 

Que me apartaria desse universo, 

 Sempre tão controverso 

Ao qual sempre pertenci. 



No último instante 

 Do último segundo 

Do último momento, 

 Girei a maçaneta, 

Abri a porta 

 E me pus, a pé 

 Pela nova estrada. 

Mas dei uma última olhada 

E fiz ul breve aceno 

Aos que lá deixei. 

Parceiros de vida, 

Companheiros de luta, 

Irmãos de alma. 

Disse: "Até breve, 

Te espero, adiante"... 



No último instante 

Do último segundo 

 Do último momento, 

Fiquei confiante 

 Nos braços que se abriam, 

Ali, adiante, 

Pois o sol já brilhava 

Ao longo da nova estrada 

Para a qual eu seguia. 

A porta cerrou-se às minhas costas, 

Mas um novo horizonte 

Descortinou-se à minha frente. 

Vanda Felix




sábado, 14 de agosto de 2021

Renúncias...

 Ela não bebeu,

Não fumou,

Não se arriscou a dar vexame 

Numa pista de dança... 🩰

Sempre cantava baixinho

Para não incomodar seus vizinhos.

E eram músicas de acalanto,

Para dar vazão ao pranto, 

Acalmar o coração ferido.



Ela pouco ousou,

Sempre usou de diplomacia .

Foi alegre,

Muito alegre,

Mas sem fazer alarde.

Sempre cordial e amável, 

Fosse cedo ou fosse tarde.

Mas padecia de dores da alma,

Que se refletiam em seu corpo.

Padecia de ausências,

De amores não vividos,

Tinha medo do futuro

E saudades do passado .


Se sonhou,

Com que sonhou, 

Não se sabe,

Pouco se soube. 

Discrição foi sua marca

A vida toda.

Guardava consigo os encantamentos,

As ilusões, 

Os desapontamentos.


Não bebeu,

Não fumou,

Não se arriscou a dar vexames...

Se sonhou, não se sabe.

Passou pela vida,

Curou as próprias feridas

Sem queixar-se a ninguém. 

Renunciou a amores,

Curou suas próprias dores

E engoliu seus desejos.

Desejos que a sufocaram...

Vanda Felix




"Se quiseres conhecer uma pessoa, escuta-lhes os sonhos."


Mia Couto

sábado, 7 de agosto de 2021

Repouso

 As regras

Que me regem

Não são rígidas, 

Não são rijas.


Barco solto

Em alto-mar, 

Vagueia

Ao sabor dos ventos

Que sopram nas velhas velas...


Barco solto 

Em alto-mar,

Sem leme,

Sem rumo,

Sem âncora. 


Ao sabor das ondas

Vagueiam meus pensamentos. 

Pássaro perdido

Sem pouso certo.

Ora, na rocha, 

Ora, na praia,

Ora, no galho,

Que balança 

À mais suave brisa.


Causa insegurança, 

Mas traz emoção, 

Desafio.

Acelera, no peito,

O pacato coração. 


O barco

Perdido no mar,

O pássaro 

Livre no ar

São minha alma,

Que, aos poucos,

Se acalma,

Ao encontrar o pouso,

Local de repouso,

Na curva do teu abraço, 

Meu ponto de apoio,

Meu porto seguro.

Vanda Felix





domingo, 1 de agosto de 2021

Houve um tempo...

Houve um tempo, 

Há muito tempo,

Em que eu fazia planos 

E tinha sonhos

Para quando chegasse aos vinte anos... 

Esse tempo chegou,

Passou e hoje é saudade.

Vinte anos era muito tempo

Quando tínhamos pouca idade.

Infância, 

Adolescência, 

Inocência,

Imaturidade.

O tempo passou e virou história,

Mas não história doída, 

Que fosse ruim de ser recordada.

É história gostosa,

Boa de ser revisitada.

Lembrança boa e suave,

Que se guarda na memória. 

Foram tempos bons,

Tempos felizes, 

Onde o pouco fazia milagres.


A menina daqueles tempos

Ainda habita em mim,

Faz parte do que me tornei,

Do que hoje sou

E daquilo que ainda serei...

Cada fase não suplanta a anterior.

A ela se agrega,

Se torna essência. 

Soma, 

Acrescenta narrativas,

Memórias 

E experiências.

São fatos de nossa vida,

Fragmentos de nossa história. 

O que a menina do amanhecer me ensinou de bom,

A adolescente da tarde aprimorou

E, hoje, a jovem senhora, ao cair da noite,

Tem muito do que delas ficou

Registrado na memória, 

Nas marcas que o corpo carrega,

Nos hábitos que incorporou

E nas ações que pratica, 

Mesmo que, disso tudo

Não carregue consciência. 


Tornei-me forte

Por imposição da vida.

Mas não sei represar minhas dores.

Dou vazão, 

Deixo correr as lágrimas, 

Que brotam no peito 

E deságuam no olhar.

Embora já não tenha pernas 

Para acompanhar o ritmo do mundo,

Já não tenha braços 

Para enlaçar a todos que amo,

Que aprendi a amar

Ao longo dos longos anos.

Meus dentes já não mastigam as novidades,

Me engasgo, 

Me atrapalho.

A cabeça já não trabalha com a razão, 

Quer uma pausa, 

E, quem agora manda é o coração. 

A memória curta,

O corpo enfraquecido,

Mas o coração segue a mil.

Já não pulo muros,

Pouco desço escadas,

Preciso de apoio,

Preciso de guia.


Mas a memória do outrora é viva,

Traz o meu ontem para o hoje.

Meu passado está presente,

Há de me ser companheiro 

Pelo futuro que me resta.



Vivo meu momento,

Com a intensidade do adolescente 

A descobrir seu primeiro amor.

Sem grandes planos,

Sem economias, 

Cada novo dia

Nasce para ser vivido

Com entusiasmo e ousadia.

Foi-se o tempo das ilusões, 

Foi-se o tempo dos engodos. 

Hoje é tempo das certezas,

De saborear cada conquista, 

De folhear as páginas da revista,

Sem querer copiar o padrão...

Sou quem sou

Graças às histórias que vivi. 

Sou quem sou

Graças as escolhas

(Certas e incertas)

Que fiz, ao longo dos meus dias.

E sou feliz, comigo mesma,

Por ter me dado a chance

De viver tudo o que pude, 

De fazer o que desejei

De acreditar em meus sonhos,

Muitos dos quais,

Sonhados enquanto, ainda, acordada.

Vanda Felix




domingo, 25 de julho de 2021

Sonho de menina

Queria acordar, de novo, menina,

Criada na vila, distante da urbe

E ir em busca da realização dos sonhos 

Sonhados na noite passada,

Enquanto dormia na rede,

Iluminada pelos raios de luar 

E por todas as estrelas do céu. 

Queria poder me aquecer ao sol, 

Sentada num banco qualquer de praça

Ou numa praia deserta,

De chapéu de aba larga e óculos escuros.

Bronzear a alma pálida, 

Aquecer o gélido coração,

Tirar o cheiro de pó  e mofo...

Queria me esquecer que o futuro é incerto 

E que o amanhã pode não chegar 

(Ou que posso não chegar até ele). 

Queria fazer mais orações de agradecimento 

E menos de pedidos. 

Queria voltar a ter olhos de esperança... 

Mas, qual quê? 

O meu mundo está em desamparo, 

Minha gente está em desespero 

E a menina, que queria voltar a ser,

Inocente, sonhadora e despreparada

Só sabe sentir medo...

Vanda Felix 


(Voilá)


quinta-feira, 1 de julho de 2021

Poesia Livre 2021

 Acabou de chegar. Tá fumegando, ainda, De recém-saído do forno... 

Minha quinta participação no "Poesia Livre", da Editora Vivara, em sua 11a edição. 


 Tão cedo 


 Tão cedo, de mim, te apartaste. 

Nem pude sentir-te o gosto. 

Tão cedo, resolveste deixar-me, 

Que nem posso chamar de desgosto. 

 Vieste na brisa da tarde 

E no primeiro raio de luar, partiste. 

Foste, bem antes do alvorecer, 

Nem pude mostrar-te a aurora, 

Pois, antes dela, foste embora. 

 Partiste, deixando um vazio, 

Um dissabor, de dor tão sentida. 

Partiste, deixando-me triste 

A vegetar, pela vida. 

Vanda Felix, Diadema (orgulhosamente)/SP #concursonacionalnovospoetas #poesialivre2021 #seleçãopoesiabrasileira








Retomada

 Há tempos não percorria estas páginas... deu até saudade, agora! É que a vida anda tão atribulada, tão conturbada, que meus hábitos mais re...