A tarde

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A  tarde
em que arde
o sol escaldante.
A tarde,
na estrada,
procuro, agitada,
a sombra
que acolhe,
que acalma
e protege
a pele do sol.
(Este sol tão a pino)
Cabeça quente,
coração saltitante,,
você, tão distante,
e tão dentro de mim.
Fico em desatino...
A tarde
se arrasta
e me afasta
de ti...
Me arrasta às lembranças,
me faz reviver
a noite
de amores
em que eu,
sem pudores,
percorri teus relevos
descobri os teus vales,
mudei minha vida
e revi meus valores.

Vanda Felix

O que é, o que foi, o que será? (ou "Questões de uma mente delirante")

Uma dúvida,
um ponto,
uma questão,
um contraponto.

Curiosidades,
perguntas sem sentido,
respostas vagas,
respostas vãs...
Eu, sem respostas,
sem saber do amanhã.

Quem, de fato, o sabe?
Quem detém a informação?
Eu?
Não!
Tu?
Nem!!!

Reféns do tempo, 
reféns do acaso.
Só sei o que foi.
O que é, vou construindo.
O amanhã é incerteza.

Submeto-me ao risco
permanente de viver,
sem, jamais, saber...

Até onde?
Até quando?
Como?

Dormirei sem respostas...
Morrerei sem saber...
O que foi
eu vivi.
O que é
eu já sei.
O que será?
Quem o sabe?
Não sei,
e nem quero!
Só me importa viver...

Vanda Felix

Reformas

http://trabalhosdegeografia2.blogspot.com.br/2013/04/globalizacao-e-desigualdade-social.html

Erros
e acertos,
consertos
em vão...
A cada intento,
que invento,
complico
a situação.
Deixe estar
cada coisa
em seu lugar.
Aceite
seu destino,
não fuja,
não reaja!
Não mude...
[nem tente!]
É isso
que apregoa
o Sistema,
que te quer dominar;
Se ficas passivo
e aceitas
de bom grado
o agrado
usado
para te confortar,
viras boneco
de corda
nas mãos de tiranos
que, à custa
de enganos,
te iludem,
te mentem,
confundem
a mente,
minando a esperança
de dias melhores,
de grandes mudanças,
que tornem felizes
[ou, ao menos, dignos]
os pobres diabos
de nosso país.

Vanda Felix

Perpetua-te

Perpetua-te em mim

nesse instante,

com teu respiro ofegante

de agonia e gozo,

rompantes

de puro prazer...

Perpetua-te em mim

no momento

em que eu mesma me atormento

pela culpa

de tamanha felicidade

em fazer-te minha metade,

e completar-te corpo e alma,

nesse êxtase que me acalma

e me traz serenidade.

Perpetua-te em mim

pelos toques,

pela língua que me roça,

pela boca que me chama

a esse corpo, que me ama.

Vanda Felix

Êxtase

No momento em que me adentras
abandono meu corpo.
Dou lugar a ti
e faço-me "voyeur" de nós dois

Contemplo-te na energia
em viril totalidade,
contemplo-me na entrega
ao gozo tão ansiado.

Fazemo-nos carne da carne,
dois corpos que se fazem único
na fusão de almas;
fluídos orgásmicos
inundam meu espírito.

Faço-me calma
e o semblante se faz sereno,
adormecida nos braços do cansaço,
com o cheiro bom do pecado,
transborda a realização do desejo.

Vanda Felix

Versos livres

Minha vida é poesia

sem métrica,
sem rima,
sem forma.
Ora lírica,
ora épica.
Às vezes, torna-se canção
ao ritmo do coração.
E, nesse descompasso,
que é a vida,
vou compondo meus versos
brancos,
livres,
tortos,
duvidosos...
Às vezes, paro,
às vezes, passo.
Não me apego a medidas.

Vanda Felix

Choro por mim mesma

O choro,
o soluço,
o rompimento do laço,
a falta de afeto,
a falta do abraço,
o medo, 
que assombra,
o colo,
que falta,
o novo,
que assusta,
a dor,
que maltrata...
Choro por ti,
pequena criança,
largada no  mundo,
já sem esperança,
querendo um afago,
ou mesmo um olhar,
que denote ternura,
que dê segurança...
Mas choro por mim
[mesma],
que também não te tenho,
e vivo sozinha
à espera do dia
que possas,
em meu colo,
sem frio,
sem dor,
sem tristeza
sorrir ou chorar,
mas só de alegria.

Vanda Felix